A produção e a competitividade da indústria europeia dos plásticos estão a afundar-se, enquanto a Ásia, liderada pela China, reforça o seu domínio global. O setor alerta para a perda acelerada de investimento e apela à União Europeia medidas imediatas para travar o declínio e proteger milhares de empregos.
A indústria europeia dos plásticos atravessa uma das fases mais críticas das últimas décadas. De acordo com o relatório 'Plastics – The Fast Facts 2025', publicado pela associação Plastics Europe, o setor enfrenta uma perda acelerada de competitividade, uma quebra acentuada na faturação e um estancamento preocupante na transição para a economia circular.
Apesar de uma ligeira recuperação na produção em 2024 — um aumento de 0,4%, atingindo 54,6 milhões de toneladas —, o peso europeu na produção mundial de plásticos continua a diminuir. Se em 2006, a Europa representava 22% do total, em 2024, a quota caiu para apenas 12%. Os rendimentos do setor também registaram uma queda significativa: de 457 mil milhões de euros em 2022, para 398 mil milhões em 2024, o que representa uma descida de 13%.
A ascensão asiática e o declínio europeu
O contraste com a dinâmica global é evidente. A produção mundial de plásticos cresceu 4,1% no último ano, e 16,3% desde 2018, com a Ásia a assumir uma posição dominante: 57,2% da produção mundial, dos quais 34,5% são provenientes da China, o triplo do total produzido pela União Europeia.
Benny Mermans, presidente da Plastics Europe, não poupa nas palavras: “A indústria europeia dos plásticos encontra-se num momento crucial. Enquanto a inovação e o investimento se aceleram noutros continentes, a Europa enfrenta uma redução da sua atividade e uma quebra na produção. É urgente agir para revitalizar a competitividade e proteger os setores estratégicos que dependem dos plásticos europeus”.
Custos energéticos e impostos ambientais sobem, competitividade desce
Entre os fatores que mais penalizam a indústria estão os custos energéticos elevados, as políticas fiscais ambientais e o aumento dos preços das matérias-primas, que têm levado ao encerramento de linhas e fábricas e à venda de ativos.
Ainda assim, a balança comercial negativa da União Europeia em polímeros melhorou ligeiramente: de -0,8 milhões de toneladas em 2023, para -0,2 milhões em 2024, graças a um aumento de 10% nas exportações. No entanto, os regimes aduaneiros internacionais continuam a representar uma ameaça. Os Estados Unidos são, atualmente, a principal fonte de importações de polímeros para a Europa (18,9%) e o quarto destino das exportações europeias (7,7%).
Circularidade em risco e liderança perdida
O relatório destaca que o avanço europeu na produção de plásticos circulares — aqueles produzidos a partir de matérias-primas recicladas, biológicas ou derivadas da captura de carbono — está a perder terreno face à China e ao resto da Ásia.
Em 2024, os plásticos circulares representaram 15,4% da produção da UE, mas esse número deve-se mais à queda dos plásticos fósseis (menos 18,9%) do que a um verdadeiro crescimento circular. A produção total manteve-se estável em 8,4 milhões de toneladas, com o reciclado mecânico a crescer apenas 2,7% e o reciclado químico praticamente estagnado.
Enquanto isso, a produção global de plásticos circulares atingiu 43,9 milhões de toneladas, ultrapassando pela primeira vez os 10% do total mundial. A China sozinha produziu 13,4 milhões de toneladas — quase o dobro de toda a Europa.
Apelo urgente a Bruxelas
Virginia Janssens, diretora-geral da Plastics Europe, lança um aviso severo: “A indústria europeia dos plásticos está à beira do precipício. A falta de apoio político claro está a travar a transição para a circularidade e a descarbonização. As instituições europeias precisam de decidir se querem liderar o primeiro ecossistema circular de plásticos do mundo ou caminhar para uma desindustrialização ainda maior”.
A associação apela a medidas políticas urgentes, que incluam:
• A resolução da crise dos custos energéticos;
• O reforço do controlo fronteiriço e da aplicação da legislação europeia;
• O estímulo à produção e ao consumo de plásticos circulares, através de metas obrigatórias de conteúdo reciclado e incentivos fiscais;
• A criação de um Observatório do Comércio de Produtos Químicos e Plásticos, para monitorizar os fluxos comerciais e garantir uma concorrência justa.
Os líderes do setor lembram que os plásticos continuam a ser materiais essenciais para a inovação, a segurança e a resiliência industrial — desde a mobilidade elétrica à saúde, passando pelas energias renováveis. No entanto, alertam: sem uma resposta imediata, a Europa arrisca-se a perder um dos seus pilares industriais e a aumentar a sua dependência externa.
“Só com uma indústria de plásticos europeia competitiva poderemos desbloquear as condições necessárias para uma economia verdadeiramente circular e neutra em carbono”, conclui Virginia Janssens.
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