Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa

A visão da Stadler de libertar o potencial inexplorado da reciclagem de papel

Stadler14/02/2025
A procura por soluções sustentáveis em embalagens nunca foi tão alta, principalmente no setor dos alimentos, onde os consumidores são cada vez mais atraídos por produtos que prometem responsabilidade ambiental. Esta tendência provocou uma mudança em direção às embalagens de papel, impulsionada tanto pelas forças do mercado, como por imperativos regulatórios.
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O mercado global de embalagens de papel está em expansão: espera-se que atinja 93,5 mil milhões de euros na Europa e US$ 75,64 bilhões na América do Norte em 2025, e projeta-se que cresça a taxas de crescimento anual composto (CAGR) de 4,8% e 3,9%, respectivamente, até 2030.

O setor de alimentos está na vanguarda dessa mudança, com as embalagens de cartão para líquidos a tornarem-se um dos tipos de embalagem que mais crescem, impulsionado pela preferência do consumidor e pelas metas de sustentabilidade. No entanto, a promessa das embalagens de papel não está isenta de desafios, principalmente no âmbito da reciclagem.

Apesar da rápida adoção de soluções de papel, uma quantidade considerável deste material, especialmente de fluxos de resíduos mistos, continua sem ser reciclada. Estudos revelaram que, na Alemanha, somente os resíduos de embalagens leves têm o potencial de fornecer cerca de 100 mil toneladas de papel de alta qualidade por ano, um recurso que permanece em grande parte inexplorado devido a vários desafios persistentes.

O projeto EnEWA, um esforço colaborativo que envolve a Stadler, instituições académicas e outros líderes do setor, fez avanços significativos ao demonstrar a viabilidade técnica da reciclagem de papel a partir de resíduos mistos. No entanto, o caminho para libertar esse potencial é obstruído por restrições regulatórias.

O desafio crescente das embalagens de papel

O setor de alimentos está a testemunhar uma mudança notável em direção às embalagens de papel, impulsionada tanto por preocupações ambientais, como pela procura dos consumidores. As empresas estão a investir cada vez mais em soluções sustentáveis de papel com inovações, como as garrafas de papel da Pulpex feitas de polpa de madeira de origem sustentável, destacando o compromisso do setor com a redução das pegadas ambientais.

Apesar desses avanços, a reciclagem de papel, especialmente de embalagens compostas, continua a ser uma questão complexa. As embalagens compostas, por norma usadas em produtos alimentares, combinam várias camadas de materiais como papel, plástico e alumínio. Estas são difíceis de separar, o que torna o processo de reciclagem intensivo em termos de energia e propenso à contaminação.

Além disso, algumas das novas embalagens compostas podem ser confusas para os consumidores, pois parecem ser feitas de papel, mas contêm camadas de outros materiais. Embora os avanços tecnológicos tenham demonstrado ser promissores, o ambiente regulatório apresenta obstáculos.

O cenário regulatório é projetado para garantir a segurança e a qualidade dos materiais reciclados usados em aplicações de contato com alimentos, embora as abordagens variem. As regulamentações da UE são prescritivas, exigindo testes detalhados, documentação e, muitas vezes, autorização antes da comercialização, refletindo uma abordagem preventiva para garantir a segurança do consumidor.

As regulamentações noutros países da UE, como Itália e Espanha, são menos prescritivas, mas ainda exigem um elevado nível de escrutínio sobre as fontes de fibras recicladas, o que representa desafios para o uso de resíduos mistos de papel em embalagens de alimentos, refletindo um compromisso europeu mais amplo de manter a segurança dos materiais reciclados.

Os países escandinavos cumprem as regulamentações da UE e acrescentam diretrizes nacionais para tratar de preocupações regionais específicas, garantindo alta segurança ao consumidor. As regulamentações norte-americanas, por outro lado, concentram-se mais na segurança geral e nas boas práticas de fabrico, permitindo mais flexibilidade, mas colocando maior responsabilidade sobre os fabricantes para garantir a conformidade.

“O projeto EnEWA mostrou que, com os ajustes tecnológicos certos, como processos aprimorados de classificação e sanitização, é possível reciclar papel de alta qualidade a partir de fluxos de resíduos mistos”, revelou Annika Ludes, engenheira de produtos da Stadler. “No entanto, para realizar plenamente esse potencial, são essenciais mudanças no cenário regulatório.”

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Contribuições do projeto EnEWA

O projeto EnEWA forneceu evidências de que a reciclagem de papel a partir de resíduos mistos é tecnicamente viável. O projeto demonstrou que, por meio de tecnologias inovadoras de triagem e processos adaptados com triagem mecânica a seco, processamento húmido e higienização, as fibras secundárias poderiam ser obtidas e usadas na produção de papel sem problemas significativos de contaminação.

Tecnologias especiais de classificação, como sensores de infravermelho próximo (NIR), foram otimizadas para identificar e separar os compostos. Além disso, processos como a dispersão a quente sob alta pressão foram bem-sucedidos na redução da contaminação microbiológica.

Além dos avanços tecnológicos, o projeto EnEWA envolveu-se com autoridades reguladoras, defendendo atualizações nas diretrizes de gerenciamento de resíduos e emendas às regulamentações restritivas. Desenvolveu recomendações para uma abordagem regulatória mais flexível, especialmente para aplicações fora do setor de alimentos ou para embalagens de alimentos secos, com o apoio de dados científicos de experiências com o pior cenário possível.

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O futuro da reciclagem de papel

Embora o projeto EnEWA estejaconcluído, o legado continua. A Stadler, agora um parceiro associado do projeto SPaRe, está a trabalhar para melhorar a eficiência energética do ciclo de reciclagem de papel. Esta iniciativa visa otimizar o uso de materiais residuais na produção de papel, potencialmente economizando 1 TWh de energia por ano - equivalente a 1,6% do consumo anual de energia do setor de papel - e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente 350 mil  toneladas de CO2 equivalentes por ano.

O projeto EnEWA chamou a atenção para o potencial inexplorado da reciclagem de papel, mostrando que existe tecnologia para reciclar quantidades significativas de papel a partir de resíduos mistos.

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