Talleres Filsa, S.A.U.
Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa

Iniciativas que impactam a alimentação do futuro e impulsionam a inovação no setor agroalimentar

Teresa Carvalho, PortugalFoods

28/01/2025
O ecossistema de empreendedorismo que se vive na área alimentar, em Portugal, tem respondido aos desafios da indústria nas mais variadas vertentes com dinamismo. Além das alternativas proteicas, existem exemplos na circularidade, logística, otimização de processos industriais e operações automatizadas.
O setor agroalimentar português reveste-se de capital importância para a economia, tendo um papel forte nas exportações nacionais e no equilíbrio do consumo alimentar interno. Na verdade, o setor agroalimentar, em particular a indústria transformadora, totalizou, em 2023, 9,2 mil milhões de euros em exportações, mantendo o crescimento do peso deste setor nas exportações nacionais.

Apesar de ser maioritariamente constituído por PMEs, este setor apresenta recursos humanos com alta capacidade técnica e produtos com elevada qualidade, que são aspetos que destacam Portugal nos mercados externos. De acordo com os dados de 2023, Portugal exportou para 177 mercados e os principais destinos foram Espanha, França, Brasil, Países Baixos e Reino Unido. De entre os produtos exportados, o vinho, o azeite, as conservas de pescado, o tomate em conserva e os sumos de fruta são as categorias que mais se destacam (AICEP).

Extrusora laboratorial em funcionamento, adquirida no âmbito da Agenda VIIAFOOD, fruto da colaboração entre o IPB e o MORE CoLAB...
Extrusora laboratorial em funcionamento, adquirida no âmbito da Agenda VIIAFOOD, fruto da colaboração entre o IPB e o MORE CoLAB, equipamento fundamental para alavancar a inovação na área dos cereais a nível nacional.

De facto, um dos fatores que influencia a posição do setor como produtor de excelência é a sua clara aposta na inovação, que permite tornar o mesmo mais sustentável, tecnologicamente avançado e responsivo às tendências e preferências do consumidor. Há uma estrutura de inovação forte, com um sistema científico e tecnológico robusto e atento aos desafios da indústria alimentar, mas também infraestruturas essenciais para impulsionar os avanços científicos e tecnológicos (p.ex.: centros de competências, incubadoras, laboratórios colaborativos).

As empresas do setor mostram estar atentas às exigências do consumidor e procuram, em conjunto com as entidades do sistema científico e tecnológico nacional, encontrar respostas e soluções para os desafios que enfrentam internamente. O setor agroalimentar aposta na inovação colaborativa e na importância das sinergias que potenciam a inovação e a competitividade das empresas.

Este ecossistema colaborativo tem vindo a ser estimulado pela PortugalFoods ao longo dos anos, que incentiva as empresas a usufruírem dos quadros de financiamento e a entrarem em consórcios de projetos de investigação e desenvolvimento tecnológico com as entidades do sistema científico, onde têm sido explorados importantes avanços para o setor.

Projetos mobilizadores

Estes são uma das iniciativas que potenciou o ecossistema colaborativo no setor agroalimentar nacional. Entre 2017 e 2022, decorreu o MobFood, o primeiro projeto mobilizador que explorou três grandes áreas pelas 43 entidades presentes: segurança alimentar e sustentabilidade, alimentação para a saúde e bem-estar, e alimentos seguros e qualidade. O segundo projeto mobilizador, cLabel+ - Clean Label Food, reuniu 20 entidades, 8 empresas e 10 entidades do sistema científico e tecnológico nacional, onde foram desenvolvidos produtos alinhados com o conceito “clean label”, mais naturais, nutritivos e orientados para o consumidor.

Foi com recurso a este trabalho inicial, de aproximação entre entidades, que foi possível desenhar e constituir o Pacto de Inovação para o Setor Agroalimentar, através da Agenda Mobilizadora VIIAFOOD (Plataforma de Valorização, Industrialização e Inovação Comercial para o Agroalimentar), no âmbito do PRR, envolvendo 29 empresas de diferentes áreas de atividade do setor agroalimentar e 20 entidades do sistema científico nacional, associações do setor e laboratórios colaborativos com competências nas áreas de I&D aplicadas à área alimentar.

Produtos/Snacks de impressão 3D a partir de subprodutos cárneos, dinamizado pelo TECMEAT
Produtos/Snacks de impressão 3D a partir de subprodutos cárneos, dinamizado pelo TECMEAT.
O VIIAFOOD tem um impacto muito relevante na economia, através de um investimento total de 113 milhões de euros em inovação produtiva e I&D, acelerando a adoção de soluções mais verdes, tecnológicas e com impacto positivo na sociedade civil. É com base neste ecossistema colaborativo e integrado que estão previstas até 300 referências de novos produtos e serviços resultantes das 31 grandes linhas de desenvolvimento (PPSs).

Além do investimento do VIIAFOOD nas unidades produtivas e de investigação, permitindo explorar novos mercados e consumidores, a Agenda também permite contribuir para o avanço de várias regiões do país, inclusivamente regiões do interior, e apresenta um impacto muito significativo na criação de emprego e emprego altamente qualificado.

Agenda VIIAFOOD

Esta foi desenhada com base em oito pilares estratégicos, que contribuem para os pilares do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR): Nutrição e Alimentos Saudáveis e Seguros; Novas Experiências Sensoriais (novos aromas, texturas e formatos); Qualidade, Segurança e Rastreabilidade dos Alimentos; Comportamento do Consumidor; Sustentabilidade no Setor Agroalimentar; Processamento Eficiente de Alimentos e Embalagens; Infraestruturas Colaborativas para a Co-Inovação e Pré-Industrialização, e Promoção e Internacionalização do Setor Agroalimentar.

Quanto aos desenvolvimentos da Agenda, estes proporcionam um vislumbre do que será a alimentação do futuro, como a impressão 3D para a valorização de subprodutos, o desenvolvimento de produtos alinhados com o posicionamento “clean label”, a pesquisa de novos ingredientes sustentáveis, a melhoria nutricional dos produtos, o sistema de auto serviço de cerveja de pressão em casa ou em qualquer lugar, o sistema de realidade mista para contextos imersivos no âmbito da análise sensorial, o serviço digital de entregas rápidas e ainda embalagens melhoradas e ambientalmente responsáveis.

Estes desenvolvimentos estão totalmente enquadrados com as tendências de inovação para o setor agroalimentar, as quais destacam a importância da circularidade, do aproveitamento dos subprodutos e da redução do desperdício alimentar, o interesse por produtos e ingredientes com benefícios funcionais (p.ex.: fibra, vitaminas, probióticos, algas), a procura por produtos que invocam a tradicionalidade e a autenticidade, a melhoria na experiência no consumo, o desenvolvimento de alternativas proteicas, o modo de produção dos alimentos, particularmente o papel da agricultura regenerativa no equilíbrio da saúde dos solos e na produção de alimentos com menor impacto climático e na biodiversidade.

O papel das startups nas alternativas proteicas

As empresas portuguesas estão muito sensíveis à temática da transição para padrões alimentares mais sustentáveis, pelo que têm explorado diferentes soluções como fontes proteicas. Concretamente, as startups, pela sua estrutura mais flexível, conseguem testar mais facilmente novas tecnologias, novos modelos de negócio e processos, permitindo introduzir opções mais disruptivas.

Atualmente, em Portugal, há startups de biotecnologia que estão a produzir, por exemplo, proteína a partir de microorganismos (Microharvest), alternativas ao leite humano a partir de fermentação de precisão (PFX Biotech) e ainda o desenvolvimento de pescado de base celular (Cell4Food). Ainda na área das alternativas proteicas, a startup Corial Foods também se tem dedicado há alguns anos ao desenvolvimento e comercialização de produtos alimentares com proteína de inseto para a alimentação humana, disponibilizando produtos com insetos em diferentes formatos (p.ex.: snacks, massa, chocolate).

A Be the not também oferece uma alternativa ao ovo a partir de proteínas de origem vegetal para o canal HORECA, tendo a inspiração surgido do produto que as fundadoras desenvolveram no âmbito do Prémio ECOTROPHELIA Portugal, uma competição europeia de eco-inovação dinamizada, em Portugal, pela PortugalFoods desde 2017.

Aposta nos mercados internacionais

O ecossistema de empreendedorismo que se vive na área alimentar, em Portugal, é muito dinâmico e tem respondido aos desafios da indústria nas mais variadas vertentes, além das alternativas proteicas, como por exemplo na circularidade, logística, otimização de processos industriais e operações automatizadas. Todo este dinamismo que o ecossistema de inovação tem vindo a imprimir é fundamental para dar respostas às necessidades dos consumidores dos diferentes mercados, sendo a qualidade e a inovação aspetos essenciais para que Portugal possa competir externamente, nomeadamente em mercados mais diferenciados, como o Japão e os Estados Unidos da América (EUA).

Na verdade, a Agenda VIIAFOOD veio permitir uma estratégia diferente na promoção dos produtos portugueses em mercados prioritários, partindo da experiência e trabalho de internacionalização realizado pela PortugalFoods nos últimos anos, que permitiu compreender que a distância geográfica, económica e cultural de certos mercados dificulta a abordagem das empresas e a consequente concretização de negócio, como é o caso dos países asiáticos.

Por outro lado, também existem países que, pela sua dimensão, forte concorrência e regras específicas de região para região são extremamente complexos, como é o exemplo dos EUA. Com base neste contexto, foram identificados pela PortugalFoods dois especialistas para o Japão/Coreia do Sul e EUA/Canadá, que conhecem o mercado-alvo, acompanham as empresas in loco, ajudam a captar negócio e a identificar oportunidades para potenciar as exportações. As empresas portuguesas respondem às necessidades dos mercados supracitados porque estes têm maior apetência para produtos mais disruptivos, com qualidade superior e um maior nível de inovação.

A Agenda VIIAFOOD constitui, assim, um movimento transformador que capacita o setor a responder aos desafios da sustentabilidade, da saúde e da digitalização, enquanto expande oportunidades a nível global e promove resultados que vão ultrapassar o seu período de execução. Para apoiar esse progresso, torna-se indispensável dispor de instrumentos de financiamento ágeis e capazes de sustentar o progresso do tecido empresarial do setor agroalimentar.

Em suma, o futuro está a ser moldado por uma combinação de fatores, desde os avanços tecnológicos a um maior conhecimento por parte da sociedade sobre a sustentabilidade e o impacto das suas escolhas alimentares. O setor agroalimentar está a mudar em função do que o futuro exige e a alimentação do futuro já está mesmo aí ao virar da esquina, trazendo consigo uma oportunidade única para se construir um mundo mais saudável, sustentável e conectado. Cabe a cada um de nós, enquanto consumidores, empresas e sociedade, abraçar esta transformação e ser parte ativa na criação de um futuro onde inovação e responsabilidade caminham lado a lado.

Agradecimentos

A Agenda VIIAFOOD - Plataforma de Valorização, Industrialização e Inovação comercial para o AgroAlimentar (n.°C644929456-00000040) é apoiada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e visa promover a transformação estrutural do setor Agroalimentar em linha com o propósito estabelecido no Pacto para a Competitividade e Internacionalização deste setor nacional. Conta com um investimento elegível total de 113.739.250,88€ e um apoio financeiro total para a Agenda como um todo de 57.872.203,29€.
Saiba mais em www.viiafood.pt

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