A produção de carne, representa um enorme desafio para as empresas nas várias etapas da cadeia alimentar, pois continua a ser alvo de narrativas de alguma forma diabolizadas. Com o aumento da população e, ao mesmo tempo, o abandono do interior, começou a haver um total afastamento das atividades rurais, deixando o meio citadino até de entender que é a Terra que alimenta o homem.
A perceção da perturbação do ambiente e de que como pode interagir com a vida futura, comprometendo mesmo as gerações vindouras, tem levado à procura incessante de culpados, tendo o mundo rural sido apontado, por algumas minorias, como causador principal da poluição ambiental, sobretudo devido à emissão de metano (CH4) pelos animais.
A falta de ligação e o desconhecimento da vida rural, por minorias urbanas, os tais sem terra para visitar no Natal, levou a assumirem que os produtos de origem animal seriam dispensáveis, pelo que começaram a considerar que a redução do seu consumo mitigaria os efeitos nefastos da sua produção no ambiente.
É claro que a criação de animais, como todas as outras atividades, gera gases com efeito de estufa (GEE), contudo esta não é, nem de longe, uma das principais causas dos GEE. Sendo muito relevante saber que a criação de animais é uma das atividades que já começou a aplicar práticas com vista a reduzir os GEE.
A variedade de tecnologia e investimentos que têm vindo a ser feitos pela indústria da carne é por si só um exemplo da evolução deste setor. As várias alternativas, que vão surgindo para satisfazer a vontade do consumidor, são paradigmáticas da criatividade das empresas que se preocupam em colocar no mercado iguarias tradicionais, mas também produtos que procuram permitir aos consumidores uma explosão de sabores adaptados ao tempo atual.
Pelo exposto, diria que a principal inovação que tem de ser feita é a boa comunicação.
Em causa está uma comunicação adequada e direcionada sobre as boas práticas implementadas ao longo de toda a cadeia alimentar, comunicação essa a ser feita cada vez mais e sobretudo nos meios onde os jovens frequentam. É fundamental que a perceção pública se altere sob pena de estarmos todos a contribuir para um mundo desequilibrado.
Não se pode deixar que a imagem dos consumidores, sobretudo os mais jovens e sem ligação ao mundo rural, seja toldada. A carne é um alimento muito importante na alimentação, face aos nutrientes que fornece e naturalmente a ser consumida na proporção preconizada na Roda Dos Alimentos.
Sabemos que a opinião pública é fortemente impactada pela preocupação com o bem-estar animal, com as alterações climáticas e a desflorestação, entre outros tópicos de ordem ambiental, os quais são também inquietações de quem produz, sendo assim necessárias políticas públicas alinhadas com a realidade do ecossistema e não apenas com a perceção pública, que desconhece o mundo rural.
A Indústria da carne, sem medo, tem sido e continuará a ser inovadora, nas várias vertentes:
* Inovadora quanto à saúde individual dos seus consumidores, recorrendo a receitas com menor quantidade de sal e de aditivos.
* Inovadora quanto à aplicação de melhores práticas de produção, evitando o desperdício.
* Inovadora quanto à aplicação de maior eficiência no que que toca ao consumo de energia, tendo em conta a proteção do ambiente. A indústria da carne faz parte do grupo das empresas que são grandes consumidores de recursos, como gás natural e eletricidade, mas continua a lutar pela adoção de fontes alternativas de energia e pela redução do consumo energético. Este equilíbrio entre a produção alimentar e a sustentabilidade ambiental é imperativo para a integridade e o futuro do setor, o que tem levado as empresas a investirem a painéis fotovoltaicos e produção de biogás.
* Inovadora quanto às boas práticas em termos de bem-estar animal, desde a exploração até o processo de abate, sendo uma preocupação não só para os consumidores, como para as empresas deste setor, que cada vez mais comunicam as ações concretas implementadas na indústria, seguindo protocolos robustos relativos a sistemas de certificação mais exigentes que a própria legislação europeia, que só por si é das mais rigorosas do planeta.
* Inovadora quanto aos materiais em contacto com alimentos/materiais de embalagem sustentáveis face às preocupações ambientais.
Toda esta inovação significa um acréscimo imenso ao custo de produção que os industriais não conseguem depois fazer reverter no custo final dos alimentos colocados no mercado. Ainda assim, continuam a investir em departamentos de inovação e marketing, a fim de satisfazerem os caprichos de cada um de nós, consumidores.
A informação através de rótulos, apesar de cada vez mais clara e transparente com a indicação da origem da matéria-prima, a composição em termos de ingredientes e alergénios, entre outra, garantindo que o consumidor está devidamente informado e assim possam fazer as suas escolhas, não chega e por vezes até, creio, pode ser contraproducente, pois informação demais pode confundir.
Por esta razão, é preciso conhecimento mais consistente sobre onde e como se produz, viajando no interior da cadeia alimentar para que possa ser dado a conhecer, de forma simples, os princípios da produção alimentar: higiene, rigor, segurança e qualidade. É preciso comunicar.
Sendo a comunicação sobre a inovação necessária, não poderia deixar de dar a conhecer o movimento 'Comunicar a Uma Só Voz', constituído por 34 entidades, podendo ser consultado o respetivo site mapa.com.pt. O MAPA pretende a divulgação proativa de conhecimento robusto e abrangente a uma só voz, dando a conhecer as boas práticas implementadas quer na agricultura, quer na criação de animais e na indústria, constituindo uma enorme oportunidade para clarificar o conhecimento dos consumidores. Este movimento é uma iniciativa proativa para unir esforços, reduzir custos e promover uma melhor articulação entre os intervenientes do setor.
Ao promover a integração e a fluidez da informação, este movimento procura alinhar estratégias para lidar com os desafios do setor, fortalecendo a voz coletiva em função de ações mais assertivas. O foco principal é o desenvolvimento de medidas que garantam não apenas a viabilidade económica do setor, mas o seu impacto social e ambiental positivo a longo prazo.
Termino com a mensagem inequívoca: quem produz alimentos é muito mais ambientalista que os consumidores que, na secretária, pensam que sabem do que falam.
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