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Segurança Alimentar: perspetiva e prospetiva

Paula Teixeira, Docente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa; Investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina

27/11/2024

A inteligência artificial e análise de big data, por exemplo, estão a transformar a forma como monitorizamos e gerimos a segurança alimentar, permitindo prever surtos e otimizar cadeias de abastecimento.

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Nas últimas décadas, a segurança alimentar tem registado progressos significativos, especialmente após as crises alimentares com dimensão internacional no final do século XX. Estas crises, por exemplo, a “doença das vacas loucas”, os produtos animais com dioxinas, os ovos com Salmonella ou o surto de Escherichia coli associado à cadeia de fast food Jack in the Box, evidenciaram a necessidade de uma abordagem mais robusta e coordenada à segurança alimentar na União Europeia. A resposta a estas crises culminou na publicação do Livro Branco sobre a segurança dos alimentos em 2000, documento fundamental para a implementação do Regulamento (CE) n.º 178/2002, que criou a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e estabeleceu princípios gerais e requisitos para a legislação alimentar. Estes avanços, aliados ao progresso científico e tecnológico, à implementação de sistemas de rastreabilidade mais eficientes, à adoção de regulamentações mais rigorosas e ao reconhecimento da importância da segurança alimentar, tanto por parte dos produtores como dos consumidores, tornaram os alimentos mais seguros do que nunca.

Apesar de todos os avanços notáveis, são ainda muitos os desafios, refletidos nas estimativas da Organização Mundial da Saúde que apontam para 600 milhões de pessoas que em todo o mundo, ou seja, uma em cada dez, adoecem anualmente devido ao consumo de alimentos contaminados e 420 mil morrem. Esta realidade sublinha o muito que ainda pode e deve ser feito num contexto difícil: os conflitos geopolíticos, a emigração, a pobreza, o aumento e o envelhecimento da população, as alterações climáticas, as cadeias de abastecimento cada vez mais globais e complexas, as resistências aos antimicrobianos, novos métodos de produção e processamento de alimentos, grande desperdício alimentar e também as expectativas dos consumidores e as alterações nos padrões de consumo... E a sustentabilidade é um imperativo.

Para grandes desafios, muitas oportunidades.

A inteligência artificial e análise de big data, por exemplo, estão a transformar a forma como monitorizamos e gerimos a segurança alimentar, permitindo prever surtos e otimizar cadeias de abastecimento. Tecnologias emergentes, como blockchain para rastreabilidade e sensores para monitorização em tempo real, também têm o potencial de revolucionar o setor. A sequenciação de nova geração (NGS) oferece uma identificação mais rápida e precisa de agentes patogénicos, melhorando a nossa capacidade de resposta a crises. A abordagem One Health, reconhecendo a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental, é também essencial para enfrentar problemas como a resistência antimicrobiana.

Neste cenário, a colaboração entre universidades, centros de investigação e a indústria é fundamental para acelerar inovações e garantir que as políticas sejam baseadas nas evidências mais recentes, promover a formação contínua dos profissionais de segurança alimentar e consciencializar os consumidores para criar uma cultura robusta de segurança alimentar.

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