Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa

O papel das startups (portuguesas) no âmbito da inovação alimentar

Deolinda Silva, executive director na PortugalFoods07/11/2024

A indústria alimentar mais “tradicional” está cada vez mais atenta aos movimentos das startups, pela sua capacidade e agilidade na geração de ideias, que acompanham o mercado em real-time, tentando responder a desafios globais, como a sustentabilidade, a segurança alimentar, a saúde, a digitalização e lançando produtos e processos disruptivos.

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O setor Agroalimentar português tem tido uma evolução excecional nos últimos anos, demonstrando a sua importância na economia nacional, nomeadamente através do crescimento sustentado das suas exportações, para um número crescente de mercados. O papel de vários atores do ecossistema agroalimentar, na área da promoção externa e na captação de negócio, tem sido fundamental, mas a base para o sucesso vem da modernização e capacidade de adaptação aos mercados, fruto da aposta em Investigação, Desenvolvimento tecnológico e Inovação. É, aqui que temos vindo a presenciar a cada vez maior importância das startups, como motor de transformação e de inovação para o setor agroalimentar.

O ecossistema empreendedor português está vibrante e o número de start-ups, na área alimentar ou food-tech, tem crescido a um ritmo acelerado, fruto das oportunidades que têm sido criadas pelos apoios, públicos e privados, ao empreendedorismo, pela aposta em mais incubadoras, programas de mentoria e devido a uma enorme diversidade e disponibilidade de capital para financiamento. O número de iniciativas que promovem e criam a rede necessária, para o arranque de uma startup ou para disseminação da sua operação, a nível nacional ou global, é o adequado, tornando o nosso país muito apetecível, também, para a presença de start-ups estrangeiras no nosso ecossistema empreendedor.

A indústria alimentar mais “tradicional” está cada vez mais atenta aos movimentos das startups, pela sua capacidade e agilidade na geração de ideias, que acompanham o mercado em real-time, tentando responder a desafios globais, como a sustentabilidade, a segurança alimentar, a saúde, a digitalização e lançando produtos e processos disruptivos.

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De facto, as startups nacionais têm assumido um papel muito relevante no desenvolvimento de soluções, alinhadas com a sustentabilidade, a saúde e bem-estar e outras tendências atuais, como o desenvolvimento em torno de proteínas alternativas, em que podemos destacar startups como a Portugal Bugs, que se tem dedicado ao desenvolvimento e comercialização de produtos com insetos para a alimentação humana, (p.ex.: snacks, barras, chocolates, massa). Destacar ainda, a Cell4Food que é a primeira empresa a trabalhar, em Portugal, a área da agricultura celular, pretendendo contribuir para a democratização do acesso a novas proteínas de base celular. Por outro lado, a Nãm Mushroom Farm tem vindo a cultivar cogumelos a partir de borras de café, sendo um bom exemplo de um negócio, que promove a economia circular.

Na área da saúde e bem-estar, as startups têm respondido agilmente a esta tendência/necessidade do consumidor ao desenvolverem produtos alimentares e bebidas com benefícios funcionais e/ou melhor perfil nutricional. Alguns exemplos de startups que estão a trabalhar nesta área são a Nolita, que fornece produtos sem açúcar adicionado, salientando as propriedades funcionais das fibras, a WISSI, que é pioneira na apanha natural de algas com o objetivo de introduzir vegetais marinhos na alimentação diária, a Why Not Soda, que disponibiliza sodas com ingredientes mais naturais e a Allmicroalgae, que se destaca pela produção de microalgas –nutricionalmente muito ricas e sustentáveis – disponibilizando-as em produtos alimentares com propriedades funcionais e em suplementos.

Do ponto de vista tecnológico e da digitalização do setor alimentar, podemos destacar startups que têm desenvolvido soluções que facilitam a transparência, a rastreabilidade e a eficiência na indústria. A FoodinTech é uma startup que desenvolveu a tecnologia Flow, que permite sustentar e acelerar a tomada de decisões na operação industrial. Já a AgroGrIN Tech desenvolveu um processo inovador e ecológico, para transformar resíduos industriais de frutas, em novos ingredientes alimentares funcionais, de alto valor, valorizando todas as frações de resíduo. Alguns exemplos destes ingredientes são enzimas naturais com elevado grau de purificação, extratos de vitaminas, farinhas de frutas e sumos desidratados, podendo ser aplicados por diferentes indústrias (p.ex.: alimentar, nutracêutica, farmacêutica).

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A PortugalFoods tem vindo a posicionar-se neste ecossistema de forma muito natural e nos últimos anos a rede tem tido uma forte adesão de startups de várias categorias de produto. Apesar da contribuição das start-ups para a modernização e inovação do setor, há constrangimentos na expansão dos negócios, para os mercados externos e, nesse sentido, a PortugalFoods tem vindo a apoiar a presença destas empresas, através da criação de espaços específicos em feiras e eventos internacionais, para que possam promover os seus produtos e encontrar investidores ou futuros parceiros. Podemos destacar a presença de quatro start-ups nacionais, na feira Fancy Food, em Nova Iorque, em junho passado, com produtos inovadores como snacks à base de insetos, granolas e panquecas saudáveis, gelados vegan e sodas naturais. Por outro lado, é fundamental ter acesso a um conhecimento aprofundado dos mercados a explorar, pelo que, a PortugalFoods, através do seu Observatório de Tendências e Mercados tem elaborado estudos com informação que permite posicionar as empresas e os seu produtos nestes mercados.

Enquanto ecossistema facilitador e agregador, a PortugalFoods também tem vindo a acompanhar spin-offs das universidades, bem como investigadores com perfil empreendedor que pretendem desenvolver as suas ideias de negócio, apresentando-os a investidores e/ou empresas do setor.

Através da iniciativa Ecotrophelia Portugal (competição nacional da Iniciativa europeia Ecotrophelia), que pretende suscitar a veia empreendedora em estudantes de licenciatura e mestrado, que são desafiados a desenvolver um produto alimentar eco-inovador. Apesar desta competição não promover diretamente a criação de startups, há já projetos que serviram de inspiração para o desenvolvimento de novos produtos na indústria, em colaboração com as equipas concorrentes, a criação de duas start-ups e algumas equipas que equacionam a criação de empresa.

Referir ainda alguns resultados alcançados, nomeadamente, na edição de 2020, em que o país conquistou o 1.º lugar na competição europeia, com um produto inovador e disruptivo, elogiado pelo júri internacional, e em 2022 conquistamos o 2.º lugar nesta competição. Este reconhecimento sublinha a qualidade e o talento existentes no ecossistema de inovação nacional.

As startups portuguesas têm um papel fundamental no futuro do setor, para que possamos ter um sistema alimentar mais resiliente, saudável e sustentável.

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