Tendências. Algo importante quando se trabalha a indústria alimentar. Porque assim consegue-se perceber quais os gostos do consumidor e responder de acordo. Acontece que, como lembra Deolinda Silva, executive director na PortugalFoods, muitas vêm de trás. A executiva verifica que, na análise das tendências para 2024 nota-se, claramente, o consolidar de algumas das tendências (que já vêm de trás). Exemplos? A questão do saudável, que já vem antes da pandemia, da indústria trabalhar produtos mais inovadores em termos daquilo que é saúde e bem-estar. “E aí podemos ir muito pragmaticamente à questão de toda aquela reformulação que está a ser feita na indústria, por inclusão legal e por questão também de saúde mundial, como é a elevação para menor teor de sal, de açúcar, de gordura”, afirma Deolinda Silva, que acredita que isto é algo que vai continuar, muito acelerado pela questão regulamentar.
A executiva refere que a pandemia trouxe um maior alerta para o bem-estar. Seja físico ou mental. E acrescenta que há uma tendência muito grande na indústria que tem a ver com potencial brutal das bebidas. “As bebidas, seja água, seja outro tipo de bebidas, estão a ter um boost enorme naquilo que é a inovação”, afirma, acrescentando que estão a surgir novos produtos – bebidas – que estão a ser trabalhadas de uma forma diferente, não só do ponto de vista sustentável, mas, também, como forma de suplementação. E aponta que esta é uma oportunidade para as cervejeiras (e não só). Mesmo porque a procura pelas cervejas artesanais tem vindo a crescer exponencialmente. A prova está no facto, como aponta a executive director na PortugalFoods, de surgirem startups de produção de cerveja artesanal que se tentam “diferenciar com estratégias de marketing, ou estratégias de envolvimento de produto diferenciado muitíssimo interessantes”. A isto, acrescenta, há ainda o fenómeno da produção biológica e vegan. Sobre o primeiro é algo que tem vindo a desacelerar, ao contrário do vegan que tem vindo aumentar. “Há um crescimento da população vegan. vegetariana, mas sobretudo a população flexitariana, que é aquela população, se calhar onde nós nos incluímos, em que tentamos reduzir o consumo da carne, tentamos não comer carne ou peixe todos os dias e tentamos substituí-la por alguns pratos. Na prática ter uma alimentação equilibrada”.
Nesta linha – o tentar evitar a sobrecarga dessa proteína na alimentação – assiste-se ao aparecimento dos produtos plant-based. E que está a levar à criação de uma nova categoria de produtos de base vegetal. Como aponta Deolinda Silva, não se trata de pretende imitar nada, mas sim ser uma nova categoria de produto com sabor, formato e textura inovador.
Questionada sobre se houve alguma tendência que só surgiu devida à pandemia, Deolinda Silva responde afirmando que a questão do desenvolvimento produtivo mais dedicado à saúde mental foi muito acelerada com a pandemia. Antes falava-se sempre em saudável e associava-se o termo à saúde física, a fazer exercício e que isso podia influenciar a saúde mental. Hoje vê-se produtos dedicados. Um exemplo claro, derivado da pandemia, foi a questão de cozinhar em casa. Não só os pratos “normais” como o usar a criatividade e tentar imitar as refeições feitas pelos chefs.
Uma tendência que se liga a uma outra, relacionada com a indulgência. Com o direito a, de vez em quando, podermos desfrutar de um pequeno prazer, sem abdicar de ser saudável. E aqui entra uma categoria que toda uma cultura nos Estados Unidos da América e que está a crescer em Portugal: os gelados, nomeadamente os artesanais, e principalmente ligados ao natural. Havendo já, aponta Deolinda Silva, algumas empresas portuguesas que começaram os seus processos de exportação e com algum sucesso. São categorias que estão a crescer e a levar a uma diversificação da base exportadora do país.
A verdade, aponta Deolinda Silva, é que nos últimos 20 anos Portugal tem sofrido uma transformação que é visível no exterior. Há todo um trabalho que tem sido feito, nomeadamente em ternos da inovação e do turismo que está a dar frutos. Sendo que há que salientar a importância do turismo vinícola e do turismo gastronómico.
“O primeiro trabalho que foi feito, e que foi altamente vencedor, foi o de reconhecimento da qualidade e da excelência da produção e isso os nossos parceiros comerciais já não têm dúvida. Ninguém duvida da qualidade e da fiabilidade dos produtos portugueses. E também de um ponto muito interessante que muitas pessoas nos diferencia de outros produtores, que é a flexibilidade da nossa indústria. Somos uma indústria muito flexível, que se adapta muito às necessidades do mercado”, constata Deolinda Silva que acrescenta que a dimensão do país, aliada “ao nosso mindset” nos diferencia de outros países. “A nossa indústria está muito aberta, muitas vezes a fazer lotes mais pequenos, a lotes mais especializados. E isso é algo que também nos diferencia, e que é importante para alguns mercados”.
A executive director da PortugalFoods lembra uma ação no Texas, em que uma cadeia norte-americana, durante 15 dias teve vários produtos portugueses, de todas as categorias, em 10 lojas. Aliás, mal o cliente entrava deparava-se com um “Welcome to Portugal”. Ao conversar com as pessoas Deolinda Silva verificou que existia curiosidade pelo destino.
A Agenda mobilizadora vai dar um novo fôlego ao trabalho de promoção do país. Nas palavras da executive director da PortugalFoods “traz uma oportunidade que nós nunca tivemos na PortugalFoods, de acelerar alguns projetos muito inovadores e muito importantes de transformação”. Desde logo permitir ter pessoas a trabalhar o agroalimentar para as empresas, captando negócio para as empresas portuguesas. “Mercados que identificámos como sendo de grande potencial, muito difíceis e sofisticados”, refere Deolinda Silva, dando como exemplo o Japão e os Estados Unidos da América. São países culturalmente diferentes – nomeadamente o Japão – ou que têm uma dimensão e, sobretudo, diversidade geográfica, como acontece nos EUA. “São mercados que pagam pela diferenciação, inovação e produtividade”, aponta a executive director da PortugalFoods, acrescentando qe a Agenda Mobilizadora também vai permitir a criação de um showroom, que pode ser virtual e físico itinerante. Uma espécie de mostra da oferta agroalimentar portuguesa.
“O culminado será depois ter aqui um modelo em Portugal de mostra dos produtos agroalimentares de forma física, que pode ser visitado pelos turistas e pode também ser alimentado com missões inversas, com a vinda de compradores que podem fazer reuniões e ter contacto em local com os produtos, mas será também para podermos marcar presença com estes produtos em ações de charme, em momentos importantes do calendário mundial, seja em eventos desportivos, como os Jogos Olímpicos, ou em feiras de grande dimensão, em que podemos ter os produtos a serem, por exemplo, trabalhados por um chefe e em momentos de degustação”.
Portugal é bem conhecido pelo seu vinho e pelo azeite. Mas há outros produtos que dão cartas e notoriedade ao país. “As frutas têm feito um trabalho excecional com a nossa congénere Portugal Fresh, a trabalhar muitíssimo bem toda esta parte da exportação”, aponta Deolinda Silva.
A executive director da PortugalFoods refere uma outra tendência irrefutável: a procura por produtos biológicos. Há cada vez mais procura pela produção sustentável e por produtos com certificação. E os produtores terão de se preparar para isso. Porque, como aponta Deolinda Silva, quem quiser exportar terá de ter esse nível de certificação perante os compradores internacionais.
Sobre a questão específica das exportações a responsável pela PortugalFoods refere que o setor alimentar não baixou as suas exportações. É claro que em 2019 e 2020 os valores estagnaram, mas isso deveu-se à pandemia. 2021 foi, segundo Deolinda Silva, um ano de grande crescimento, assim como 2022 e 2023.
“Embora 2022 e 2022, naturalmente, tenhamos aqui influência grande da inflação, dos preços, que de certa forma influenciaram os valores”, mas, mesmo assim “houve claramente um crescimento”. O que aconteceu foi uma desaceleração do crescimento.
A par disto houve toda uma pressão sobre a cadeia logística nas mais variadas questões, seja a parte da energia, dos combustíveis, ou mesmo a questão da guerra na Ucrânia e, agora, a situação entre Israel e a Palestina. A parte positiva foi que verificou-se que a indústria tem capacidade para reagir. É que certo que todos estes constrangimentos levaram a encerramentos de empresas, mas, se calhar, “menos do que se pensava inicialmente”. Porque “estamos a falar de uma indústria com capacidade de inovação e alguma com capacidade de exportação”. Durante a pandemia foi uma indústria que “teve a capacidade de reagir às questões do lay-off, de criar turnos alternativos e foi capaz de abastecer, para a normalidade, o mercado interno, o que não aconteceu em muitos outros países”.
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