Alejandro Rivera, sócio fundador da Cervecería Punto Medio, recorda que o projeto teve início numa reunião com Patricio Gutiérrez, diretor-geral da Santena, que foi o primeiro a propor a inclusão de grilos na bebida: “Disse-me que queriam demonstrar que este tipo de ingredientes se pode adicionar à dieta normal e que, embora pareça algo completamente louco, não deixa de ter um bom sabor, pelo que queremos que as pessoas percebam que se pode usar de diferentes formas. E daí surgiu a ideia: porque não tentamos usar numa cerveja?”, conta.
Com base nisso, abordaram uma terceira empresa mexicana, a Cervecería Arellano, uma marca conhecida por utilizar ingredientes alternativos no fabrico dos seus produtos. Após um processo de investigação, testes e apresentações, descobriram que o grilo tem um sabor semelhante ao da cevada ou do centeio, pelo que substituíram uma parte do cereal usado para a produção da cerveja por estes insetos.
“Optámos por uma cerveja tipo «porter», que é uma cerveja escura. Decidimos submeter os grilos a um processo de torrefação para substituir os 5% de malte torrado e, então, tendo os maltes base e o grilo torrado, permitimos que a cerveja assumisse esta cor muito escura e estas notas torradas de café ou cacau”, explica Patricio Gutiérrez.
Apresentação de cerveja elaborada à base de insetos. Foto: Sergio Adrián Ángeles, Efeagro.
Alejandro Bruna, cofundador da Griyum, a quinta onde os insetos foram obtidos, detalha que o grilo contém um aminoácido chamado glutamato que costuma ser utilizado para potenciar sabores: “Tem uma característica de sabor que é conhecida como umami, e este sabor é justamente o que é utilizado para que uma cerveja como a 'La Grilla' tenha um sabor mais intenso e, apesar de ser uma 'porter', chegue às notas de sabor de uma 'stout'”.
Patricio Gutierrez acrescenta que sua empresa nasceu com a ideia de criar alimentos muito mais nutritivos e sustentáveis, razão pela qual escolheram os insetos como a base dos seus produtos, uma vez que “são uma fonte de proteína natural muito abundante no ambiente e que a indústria desperdiça”.
Neste sentido, destaca a necessidade de o mundo começar a aproveitar proteínas mais sustentáveis para além da pecuária, visto que se trata de "uma indústria responsável por uma grande quantidade de emissões de gases de efeito de estufa e pela desflorestação. Segundo Gutiérrez, produzir a mesma quantidade de grilos que de carne de vaca requer apenas 4% dos recursos naturais.
“O que pretendemos com esta colaboração é criar a consciência de que os insetos podem estar em todos os alimentos e realmente não matam nem são prejudiciais, permitindo, pelo contrário, uma vantagem a nível nutricional. É essa a ideia deste projeto. Criar algo único, mexicano, com origem em Querétaro e que possa representar o nosso país e a nossa cultura”, conclui.
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