A Agenda Sustainable Plastics foi um dos primeiros contratos assinados com o Governo, no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do PRR. A apresentação pública do projeto teve lugar na Nova School of Business and Economics em Carcavelos, a 2 de outubro.
A Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) quer alavancar a transição sustentável da indústria dos plásticos, ao promover um novo projeto agregador do setor privado, entidades governamentais, academia e sociedade civil.
O projeto Sustainable Plastics pretende ser uma agenda mobilizadora para os plásticos sustentáveis em Portugal, contribuindo para a promoção da economia circular, redução dos gases com efeito de estufa (GEE), promoção da eficiência de recursos e criação de emprego.
Na apresentação pública do projeto, que teve lugar na Nova SBE em Carcavelos, a 2 de outubro, o secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires, sublinhou que é necessária “uma transição rápida que garanta que fazemos parte do grupo de países que lidera a mudança à escala global. Queremos continuar a crescer, queremos mais e melhores empregos e queremos também mais bem-estar, enquanto salvaguardamos o nosso meio ambiente, os nossos recursos naturais, a nossa fauna e a nossa flora”.
O evento decorreu no Grande Auditório Jerónimo Martins da Nova SBE e recebeu cerca de 200 convidados.
A Agenda Sustainable Plastics foi um dos primeiros contratos assinados com o Governo, no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do PRR. O consórcio reúne 39 empresas e dez entidades não empresariais do sistema científico e tecnológico, de forma a englobar todos os segmentos e subsetores da indústria dos plásticos e responder aos seus principais desafios.
Tendo em conta que o país ainda está assente numa economia de base linear, o secretário de Estado incentivou à colaboração para a mudança de paradigma: “A economia circular não pode ser um chavão, tem de ser a nossa ambição assente em padrões de desenvolvimento sustentável e na redução acentuada na utilização de matérias-primas primárias no processo produtivo que esta agenda mobilizadora contribui para atingir no setor dos plásticos”.
Reconheceu que “o país está a ter dificuldades em implementar uma economia mais circular”, pelo que solicitou o contributo, dedicação e conhecimento da indústria dos plásticos, na medida em que o país tem como meta depositar em aterro, em 2035, apenas 10% dos resíduos gerados a nível nacional.
Para além do Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2030) já existente, o secretário de Estado anunciou, nesta sessão, que o Governo vai “aprovar muito em breve” a revisão do Regime Geral de Gestão de Resíduos (Unilex), “dando uma maior estabilidade e previsibilidade a todo o setor”.
Na sua intervenção, o secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires, afirmou que é necessária “uma transição rápida que garanta que fazemos parte do grupo de países que lidera a mudança à escala global"
A Agenda Sustainable Plastics responde ao desafio da transformação e estipula como meta introduzir no mercado 21 produtos inovadores na área da economia circular; promover 36 publicações de carácter científico e novas patentes, registando avanço tecnológico e científico e partilhando conhecimento a nível nacional e internacional; e reduzir 30% na emissão de gases com efeito de estufa associadas aos processos produtivos.
Jorge Coelho, coordenador científico da Agenda Sustainable Plastics e professor na Universidade de Coimbra, relembrou que a população mundial está a crescer e com ela o consumo e produção de plásticos, que tenderá a triplicar até 2050. Partindo da premissa de que “todos os plásticos vão ter que existir”, defendeu que “não há soluções milagrosas e, por isso, vamos continuar a ter produtos de plásticos fósseis, plásticos biobaseados e eventualmente híbridos. No entanto, a ideia aqui é desenvolver as melhores tecnologias possíveis para que o impacto seja o menor possível”. Por isso, frisou que é preciso o setor repensar os métodos e as políticas, pois “só a inovação é a solução”. “Nós podemos ter uma imagem idílica da vida, mas também temos de ter uma imagem real: as pessoas não irão abdicar do seu nível de vida por uma questão de sustentabilidade. A ciência e a inovação têm de encontrar formas de essas pessoas poderem ter um nível de vida que têm e conseguir fazer as coisas que pretendem fazer, mas de uma forma sustentável”, acrescentou.
Tendo com conta a complexidade da cadeia de valor da indústria dos plásticos, que envolve um número muito alargado de stakehodlers (produtores de materiais plásticos e matérias-primas, transformadores, fabricantes de máquinas e equipamentos, brand-owners, retalhistas e distribuidores, agentes da gestão de resíduos, entre muitos outros), o consórcio considera essencial promover a criação de um ecossistema de inovação capaz de envolver todos estes agentes económicos, assim como os consumidores, no sentido de endereçar os desafios que a economia circular apresenta.
Apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), esta agenda verde é uma das 53 agendas mobilizadoras para promover a inovação empresarial rumo a uma operação mais sustentável. Presente na apresentação, Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, sublinhou a importância do foco nos resultados. “Claro que o investimento é importante porque sem investimento é difícil desenvolver um conjunto de atividades, mas o mais importante no meio das agendas mobilizadoras são os PPS, os chamados produtos, processos e serviços, que cada agenda mobilizadora consiga alcançar e que, na realidade, cria uma sociedade mais verde e mais sustentável”.
Neste caso, o projeto está estruturado em quatro Work Packages (circularidade pelo design de material, circularidade pelo design de produto, circularidade pela reciclagem e circularidade pelas matérias-primas alternativas), pelos quais se distribuem 14 projetos em andamento (os chamados PPS), todos eles feitos da colaboração de diferentes stakeholders. Por exemplo, o PPS 1 está a estudar a forma de substituir materiais fósseis por derivados de milho para produzir objetos de cutelaria como copos e taças; o PPS 6 visa potenciar a reciclagem de cápsulas de café, desenvolvendo um material já pensado para a reciclagem; já o PPS9 está a desenvolver uma espécie de passaporte digital a incorporar nas embalagens plásticas, que vai permitir acompanhar todo o seu percurso de vida, incluindo onde foi vendida e quem a adquiriu; ou o PPS 13 que está a desenvolver um composto baseado em amido de milho para criar novos sacos para acondicionar fruta e legumes no supermercado.
Neste sentido, Pedro Dominguinhos sublinhou a importância da colaboração para alavancar a mudança: “As agências mobilizadoras têm uma particularidade relevante, que é de potenciarem e desenvolverem uma cultura de cocriação entre empresas, entre instituições do sistema científico e tecnológico, entre associações empresariais, comerciais e de outra natureza. E isto é particularmente relevante porque os Work Packages existem, mas Work Packages per si fazem pouco se não estiverem integrados numa cultura mais global da própria agenda mobilizadora”.
Para além disso, é preciso ganhar a opinião pública. Neste sentido, Filipe de Botton, chairman da Logoplaste, empresa que lidera o consórcio, salientou que a indústria “perdeu completamente a guerra da comunicação”, pois deixou que se criasse uma má imagem dos plásticos. Defendeu que é preciso de facto medir o real impacto dos produtos no ambiente e que o plástico vence muitas vezes quando comparado com outros materiais. E exemplificou com os copos de papel que, para conseguirem manter a água, são forrados a plástico por dentro – “o pior que pode acontecer para a circularidade”.
Assim, para Filipe de Botton, “não se vive sem plásticos. Se dissermos ‘acabemos com o plástico’, instantaneamente deixamos de ter telemóveis, por exemplo. É mesmo impossível vivermos na sociedade que estamos e desenvolvê-la sem plásticos”.
Até dezembro de 2025, esta agenda verde deverá envolver cerca de 427 recursos humanos altamente qualificados nos domínios das ciências, engenharias e tecnologia, promover mais de 80 ações de formação e permitir criar novos postos de trabalho.
O montante de investimento global envolvido ronda os trinta e nove milhões de euros, devendo a agenda estar concluída e com resultados concretizados até 31 de dezembro de 2025.
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