Da Europa aos Estados Unidos, os consumidores são muitos e variados, exigindo a cada mercado necessidades e ofertas diferentes. Segundo a Forbes, a pandemia de Covid-19 obrigou este mercado a desenvolver-se de forma mais rápida para oferecer aquilo que as pessoas querem: produtos de qualidade, opções mais saudáveis, com menos calorias, orgânicas, biodinâmicas, práticas e saborosas. Fomos saber em que ponto estamos no que ao mercado nacional diz respeito, nomeadamente no setor cervejeiro e nas bebidas refrescantes não alcoólicas.
“Somos o país da UE que possui maior consumo fora de casa (quase 70%), impactando fortemente os negócios no setor dos cafés, restaurantes e bares. É, pois, natural, que nos anos pandémicos, o setor tenha atravessado graves dificuldades com o encerramento da restauração, com o cancelamento de festivais e feiras de cervejas e a retração do consumo fora de casa pelos portugueses levou a quebra de vendas entre 30 e 70%”, começa por relembrar Francisco Gírio, Secretário-Geral dos Cervejeiros de Portugal.
E quando o setor procurava recuperar dos anos 2020 e 2021, a guerra na Ucrânia e o aumento das matérias-primas (cevada, milho), da energia, das embalagens em geral, e do vidro em particular, “colocam novos desafios de sustentabilidade para os produtores de cerveja em geral”, desde os artesanais aos industriais. Guerra e inflação na Europa são atualmente a 'espuma dos dias' da economia em geral e deste setor.
“É neste contexto de fragilidade social e económica da cerveja, que o Governo, incompreensivelmente, decide propor no OE 2023 um aumento de 4% nos impostos especiais de consumo da cerveja (IEC/IABA), e mantendo à taxa zero este mesmo imposto sobre o consumo de vinho. Não existe racionalidade económica, social ou ambiental para esta discriminação entre cerveja e vinho”, afirma o responsável, sublinhando que os Cervejeiros de Portugal reclamam a anulação, em sede de discussão na especialidade, deste aumento do IEC/IABA sobre a cerveja. “Só assim se pode evitar o agravamento em 2023 da diferenciação fiscal entre estas duas bebidas fermentadas que os portugueses tanto apreciam”, alerta Francisco Gírio.
Neste contexto, Francisco Gírio não tem dúvidas: “todos os produtores de cerveja nacional sairão gravemente lesados, mas serão os artesanais os mais afetados. E se tivermos em conta que estes microprodutores, que representam mais de 96% do total de produtores, terão que pagar em Portugal 11 €/hectolitro (todos os microprodutores europeus apenas pagam 50% do IEC/IABA) enquanto em Espanha os grandes produtores cervejeiros, apenas pagam 9,96 €/hectolitro, facilmente se conclui que o nível do imposto sobre a cerveja em Portugal impossibilita o crescimento sustentável e competitivo do setor, e prejudica grandes, pequenos e as mais de cem empresas artesanais de microprodução de cerveja, espalhadas em todo o território nacional”.
Este empreendedorismo no setor cervejeiro que surgiu em Portugal, a partir de 2011, “e que é um verdadeiro motor de desenvolvimento do País, de criação de postos de trabalho e um património estratégico para o futuro da economia nacional, vai pagar mais impostos ao Estado em IEC/IABA por hectolitro do que pagarão uma Mahou, Heineken ou Estrella da Galicia em Espanha”.
Na ótica dos Cervejeiros de Portugal, a proposta de OE 2023 traduz-se num obstáculo à retoma do setor. “O aumento dos impostos colocará o setor cervejeiro atrás dos seus dois maiores concorrentes, o vinho e a concorrência espanhola, e o impacto será devastador a médio prazo com o encerramento de empresas e milhares de empregos diretos e indiretos estarão em risco”, acrescenta.
O setor cervejeiro nacional reclama do Estado um pacto de estabilidade fiscal de médio prazo e ainda o acesso a taxas mais baixas de IEC/IABA para os cervejeiros artesanais até um determinado limite de produção anual. “É da mais elementar justiça para um setor que é exportador, que possui as suas unidades de produção e gera emprego em Portugal”, defende Francisco Gírio.
Com mais de 30 anos, a APCV – Cervejeiros de Portugal tem como principais objetivos ser a voz da Indústria Cervejeira Nacional em Portugal, junto da União Europeia e de organizações internacionais e apoiar, política e legislativamente, o setor em todas as suas vertentes, incrementar e fortalecer a produção sustentável de cerveja, garantir à indústria cervejeira portuguesa o direito de ser competitiva e inovadora e promover a responsabilidade do setor em relação ao ambiente, segurança alimentar, saúde e nutrição e comunicação comercial.
Não obstante os problemas que o setor enfrenta, a APCV – Cervejeiros de Portugal “trabalha todos os dias no sentido de assegurar a competitividade, a inovação, sustentabilidade e qualidade no setor”, refere o responsável. No plano da sustentabilidade, constam iniciativas de responsabilidade social no que respeita ao consumo moderado e responsável de cerveja, incluindo ações de educação entre os jovens, ações de prevenção do consumo de cerveja se for conduzir. “A disponibilização pelos associados de cervejas sem álcool constitui uma forma de disponibilizar aos nossos consumidores, uma opção para quando não é aconselhável consumir álcool”.
Também a promoção das melhores práticas ambientais no setor, nomeadamente, a descarbonização da produção, a redução de emissões de CO2 ao longo de toda a cadeia de valor, a aposta de energias renováveis e a inovação permanente em embalagens mais sustentáveis são inovações constantes no setor cervejeiro.
Francisco Gírio considera ainda que “o direito a inovar passa ainda pela liberdade de introdução no mercado de novas cervejas. Na multiplicação de experiências em matéria de consumo, com novos sabores, novas harmonizações, erguemos a categoria 0.0, que reúne cada vez mais consumidores que procuram novas opções, sem prejuízo do prazer de uma cerveja gelada. Algo que só é possível com a determinação de cada empresa cervejeira, seja grande, média ou pequena, em levar o melhor de si à mesa dos portugueses, dos turistas e dos nossos”.
O setor das bebidas refrescantes não alcoólicas, representado pela Associação Portuguesa das Bebidas Refrescantes Não Alcoólicas (PROBEB), conta com uma “boa presença de empresas do País, com um portefólio de marcas nacionais de forte implantação e notoriedade, coexistindo com marcas internacionais produzidas e comercializadas sob licença em Portugal”. Quem o diz é Márcio Cruz, Presidente da PROBEB.
“Em 2022, apesar dos constrangimentos causados pela conjuntura internacional, mas ainda num ambiente económico favorável, principalmente devido ao turismo e ao aumento de consumo dos portugueses, a atividade do setor tem registado um desempenho positivo”, salienta o responsável.
Não obstante, “em virtude dos rápidos e exponenciais aumentos dos custos de produção, o setor está a sofrer enormes dificuldades. Em parte, as dificuldades já vinham do período de recuperação da pandemia e impactavam sobretudo sobre a logística. No entanto, agravaram-se muitíssimo com a invasão russa da Ucrânia. Juntaram-se dificuldades no abastecimento e aumento de custos de matérias-primas, nos preços da energia e dos combustíveis e até dificuldades de recrutamento de profissionais”.
Quanto a prioridades e preocupações mais estruturais, a PROBEB assinala:
Como mostra a experiência do setor o modelo de autorregulação com fixação de metas de reformulação dos produtos afigura-se suficiente para assegurar o cumprimento dos objetivos de redução de açúcar. Além disso, ao incidir sobre todas as categorias de produtos, com baixo valor energético e mesmo sem valor energético, o imposto não incentiva a reformulação. O setor assumiu o compromisso de reformular os produtos e reduzir o teor calórico dos refrigerantes e obteve resultados assinaláveis:
i) Entre 2013 e 2020, no mínimo, 25%. Até ao final de 2019 reduzimos 30,5 %;
ii) De 2019 a 2022, temos o compromisso de reduzir 10%, resultado que já alcançámos.
iii) No último relatório de progresso publicado (2021) a redução de açúcar nas bebidas foi superior a 16 %.
"Assim, e após um processo de reformulação que levou em 9 anos à redução de 41,5% de açúcar, é claro que imposto terá de ser descontinuado por já estar esgotado o seu efeito útil e por ser fundamental robustecer o tecido industrial nacional, em particular devido à enorme diferença do enquadramento fiscal entre Portugal e Espanha, o que se afigura altamente lesivo da indústria nacional e da promoção das exportações", assinala o responsável.
A sustentabilidade ambiental é hoje mais do que uma opção, é parte de um modelo de desenvolvimento consciente dos impactos de uma atividade económica que interioriza a necessidade de assegurar a eco-eficiência do processo produtivo e da atividade desenvolvida.
Na transição do setor para a economia circular, a PROBEB destaca as seguintes prioridades:
i) Assegurar a oferta de embalagens 100% recicláveis;
ii) Promover o sistema de depósito-reembolso (SDR);
iii) Aumentar a taxa de retoma de garrafas PET para 77% até 2025 e 90% até 2030;
iv) Incorporar no mínimo 25% de rPET em garrafas em PET.
v) Abordar a reutilização de embalagens no contexto de um tecido produtivo, dentro de calendário adequado e alinhado com as exigências europeias, de forma a permitir às empresas responder positivamente ao desafio da reutilização.
A PROBEB é uma associação empresarial sem fins lucrativos, constituída por empresas que se dedicam à produção e comercialização de bebidas refrescantes não alcoólicas, em território nacional. É hoje formada por 15 empresas (81% do mercado em valor). Representa 61 marcas comerciais.
Em 2022, a PROBEB teve um ano de ação intensa, sobretudo no contexto do eixo prioritário da sustentabilidade ambiental do setor, mas também, no que respeita às preocupações relacionadas com questões associadas aos estilos de vida.
Sumarizando, em 2022, tiveram atenção principal na ação desenvolvida pela PROBEB:
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