Um setor que atravessa dificuldades conhecidas por todos os players como falta de mão de obra, aumentos dos preços dos combustíveis e da energia, agravamento da inflação, que registaram uma intensificação com a pandemia e com a guerra na Ucrânia, tem de se reinventar. Olhar para os seus processos de produção, para a sua logística e distribuição, por forma a poder otimizar os seus negócios e tornar as empresas do setor mais competitivas.
Segundo o Guia Informativo – Indústria 4.0, da PortugalFoods, o agroalimentar é o setor produtivo mais exposto às mudanças nos padrões de consumo dos indivíduos. “Embora a procura dos mercados seja moderadamente estável, as preferências do consumidor mudam consideravelmente com o tempo, exigindo que os fabricantes respondam e se adaptem a essas necessidades em constante mudança”.
No mesmo guia pode ler-se que, quando comparado com os outros setores, a indústria alimentar investe menos em investigação e desenvolvimento (I&D), devido a vários fatores, mas também pela pressão das margens de lucro (FoodDrinkEurope, 2019).
Os consumidores estão cada vez mais exigentes, quer pelas questões ligadas à sustentabilidade da atividade das empresas produtoras dos alimentos que consomem, como também pela qualidade e frescura dos mesmos, e se o cliente está mais consciente as empresas precisam de responder a esse movimento e otimizar os seus processos com vista a proporcionar uma melhor experiência de consumo, maximizando assim os seus negócios.
As exigências específicas do setor alimentar, a robotização dentro da fábrica, os processos logísticos para garantir a distribuição da produção ao ponto de consumo em perfeitas condições e a fiscalização de toda a cadeia de valor são temas centrais ao setor e que devem ser analisados para melhor se entender a sua evolução.
Uma nova era está a ser vivida na logística em geral, e na intralogística e logística da indústria alimentar em particular. Estamos à porta de uma quarta revolução industrial (ou indústria 4.0), caraterizada pela fusão de métodos de produção com a digitalização da economia e da sociedade. Este é um momento designado de “produção inteligente, em que sistemas colaborativos totalmente integrados que respondem em tempo real para corresponder as condições na fábrica com as alterações na procura de mercado”, como divulga a PortugalFoods.
Muitas empresas da indústria alimentar já iniciaram a sua reconversão tecnológica no âmbito da Indústria 4.0, “tendo começado pela implementação de software e sistemas e, numa fase posterior, implementado a transformação de grandes equipamentos e hardware. Não obstante, todas as empresas que investiram na Indústria 4.0 estimam que tal tenha tido reflexos positivos ao nível da produção, da eficiência, do volume de negócios e das exportações. De destacar o impacto ao nível da produção, onde se observaram aumentos em 80% das empresas. Mais ainda, cerca de 50% das empresas antecipam crescimentos na ordem dos 5-15% das suas exportações e do volume de negócios devido a estes investimentos”, segundo o Guia Informativo – Indústria 4.0 da PortugalFoods.
Chegou a era digital à logística para a indústria alimentar.
A necessidade real sentida com a pandemia de aumentar o distanciamento físico nas fábricas e na logística de transporte, estimulou o processo de transição das empresas do setor da indústria alimentar, trazendo-as para a era da robotização e da Inteligência Artificial (IA).
Desde a modernização das fábricas, a criação de novos processos de intralogística ou simplesmente a aprendizagem de um novo procedimento digital, representam a transição das empresas para a era da indústria 4.0.
A robotização da logística era há muito imaginada, e hoje é já uma realidade, começando agora a massificar-se. Se por um lado, as empresas estavam a necessitar de aumentar a produção e responder à falta de mão de obra, por outro, as exigências ambientas e os custos de energia, vieram mostrar que mais do que nunca era necessário de dar esse passo.
Segundo dados do Relatório de Robótica Mundial 2021, da International Federation of Robotics (IFR), em 2020, a densidade média de robôs na indústria de manufatura foi de 126 robôs por 10.000 funcionários
A automatização de processos, a IoT e a automação vão ditar o futuro da logística e intralogística.
Perspetivas para a robotização na indústria 2021 – 2024
Os dados disponibilizados pela International Federation of Robotics (IFR) mostram que no triénio de 2021-2024, são esperadas taxas médias de crescimento anual na faixa média de um dígito. A marca de 500.000 unidades de robôs instaladas por ano em todo o mundo deverá ser alcançada em 2024.
Marina Bill, Presidente do Comité de Fornecedores de Robôs Industriais da IFR, admite que: “verificamos uma transformação de longo prazo em todos os setores. Os robôs continuam a mover-se além da fabricação tradicional em logística e armazéns, laboratórios, oficinas e pequenos ambientes de produção. Novos setores da economia, incluindo pequenas e médias empresas (PMEs) estão a adotar a automação pela primeira vez e novos segmentos de clientes (incluindo saúde, bens de consumo rápidos, construção, logística) estão a acelerar”.
É importante não desprezar que, apesar da urgência na robotização e da transição digital e tecnológica da logística na indústria alimentar, esta não anula a necessidade de recursos humanos. A Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL) reforça que “por muita tecnologia que se venha a incorporar, a ausência de recursos humanos será sempre um fator limitativo da logística na indústria alimentar. Inclusive com o desenvolvimento de robotização e Inteligência Artificial, este é um setor que continuará muito dependente do fator humano pela sua dinâmica, imprevisibilidade e necessidade de adaptação”.
A evolução tecnológica vem potenciar a qualidade dos alimentos, ao encurtar os tempos dos processos dentro da fábrica, ao otimizar processos e minimizar os tempos de entrega permitindo que os bens de consumo alimentares cheguem de forma mais célere aos consumidores, assegurando de forma eficiente o cumprimento das normas de qualidade e de segurança alimentar.
Fomos saber junto da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), que em Portugal é a autoridade nacional responsável simultaneamente pela avaliação e comunicação dos riscos na cadeia alimentar bem como pela fiscalização da produção e transformação dos géneros alimentícios e dos alimentos para animais, exercendo a sua ação em todas as fases da cadeia alimentar, quais as principais peculiaridades e dificuldades do setor.
A indústria alimentar apresenta caraterísticas muito particulares, e “tem uma importância extraordinária no setor agroalimentar com forte impacto na economia nacional. Tem uma participação robusta no VAB (valor acrescentado bruto), sendo que se incluirmos toda a cadeia de valor até ao comércio por grosso e retalho chega quase a 10%. Igualmente importante o peso das exportações do setor agroalimentar (cerca de 10,5% do total) refletindo-se o seu contributo em cerca de 3% do PIB”, conforme explica Filipa Melo de Vasconcelos, Subinspetora-Geral da ASAE.
Para compreender melhor de que forma a intralogística e logística no setor alimentar são fiscalizadas, questionámos a entidade fiscalizadora sobre o seu papel na cadeia de valor do setor. Explica que “neste contexto, a ASAE pela sua missão orgânica em toda a cadeia alimentar acompanha toda a cadeia de valor desde a produção, passando pela transformação, transporte, armazenamento até ao consumo”.
São colhidas pela ASAE amostras de géneros alimentícios que se encontravam no mercado à disposição do consumidor.
Da produção alimentar ao consumo, a ASAE realiza ações de fiscalização na fábrica, no momento do transporte e no ponto de venda/consumo.
A ASAE tem uma atuação baseada no risco e em toda a cadeia alimentar, “apesar do atual paradigma estar em mudança com as questões relacionadas com a segurança nutricional parecerem, de certa forma, sobrepor-se às questões relacionadas com a segurança dos alimentos, importa realçar a relevância do enorme trabalho efetuado nos últimos anos no âmbito do controlo oficial, nomeadamente ao nível da verificação do cumprimento dos critérios de segurança aplicáveis aos alimentos ao longo de toda a cadeia, os quais, por sua vez, garantem a saúde pública dos consumidores”.
No âmbito das suas competências, a ASAE procede a dezenas de milhares de inspeções a operadores do setor alimentar, para verificação do cumprimento das regras higio-sanitárias aplicáveis, entre outras, procedendo ainda à colheita de amostras que são analisadas no seu próprio Laboratório de Segurança Alimentar (LSA).
No âmbito do Plano Nacional de Colheita de Amostras (PNCA)1, são colhidas amostras de géneros alimentícios que se encontram no mercado à disposição do consumidor, e sujeitas às mais diversas determinações analíticas pelo LSA, para verificação do cumprimento de critérios de segurança aplicáveis, bem como outros requisitos legais a que estão sujeitos, nomeadamente, ao nível das práticas leais de informação e proteção dos direitos do consumidor.
Segundo a ASAE, os níveis de segurança atualmente constatados nos controlos oficiais efetuados, incluindo nas plataformas logísticas, estão alinhados com os padrões de segurança alimentar no espaço comunitário, “pelo que podemos afirmar que os géneros alimentícios comercializados em Portugal são seguros”.
O setor logístico em Portugal tem uma amplitude muito grande em termos de setores onde atua. Desta forma, os impactos da pandemia atingiram o setor de forma distinta consoante a área a que cada empresa se dedica.
Segundo afirma Vítor Figueiredo, Presidente do Conselho Diretivo da APOL, “de uma maneira geral, existem fatores que foram comuns a todos os setores como foi uma incerteza muito grande na gestão do risco de um setor que, ao contrário de muitos outros, não poderia parar”.
As adversidades causadas pela pandemia vieram obrigar as empresas de logística a uma rápida adaptação, tendo sido necessária uma grande agilidade e resiliência para que as cadeias de distribuição continuassem em desenvolvimento, tal como explica Vítor Figueiredo.
Acrescenta ainda que, “de um ponto de vista de gestão de recursos humanos, foi necessário criar redundância de equipas operacionais com vista a poder garantir continuidade de operações, mesmo quando havia necessidade de colocar equipas em isolamento. Tudo isto se passou com um misto de trabalho presencial e à distância".
Order picker horizantal ECE 225 da Jungheinrich em operação.
Segundo o Presidente da APOL, a pandemia veio trazer “grande visibilidade ao setor da logística, principalmente quando se percebeu que este era um setor bem preparado e com meios físicos e humanos para poder enfrentar uma crise sem precedentes como foi a pandemia”.
Em termos de padrões de consumo, a pandemia serviu como um acelerador significativo quer da omnicanalidade, com especial incidência no comércio eletrónico, quer na tendência de aumento do comércio de proximidade. Nestes dois aspetos, Vítor Figueiredo admite que “a pandemia não alterou as tendências que já existiam, mas sem dúvida que as acelerou de uma forma muito significativa. Por outro lado, a pandemia serviu para que a sociedade se desse conta de quão frágeis e dependentes estavam as cadeias de abastecimento”.
Em paralelo com outros setores, também na área da logística se tem vindo a registar um decréscimo de mão de obra e uma grande dificuldade de atração de talentos. Ainda assim, esta dificuldade não foi iniciada pela a pandemia, segundo afirma o Presidente da APOL: “não cremos que tenha sido algo causado pela pandemia, mas cujos impactos foram, sem dúvida, acelerados e amplificados por esta crise”. Mas assume que a escassez de profissionais no setor “é um fator limitativo e altamente preocupante”.
Para a APOL, o setor da logística é um setor que se tem vindo a transformar significativamente, “sendo talvez dos setores que mais tecnologia incorporou nos últimos anos”. Em simultâneo, é um dos setores que mais emprego gerou, segundo a associação.
O setor da logística alimentar enfrenta hoje fortes dificuldades: além da escassez de mão de obra, verifica-se também uma forte escassez de viaturas pesadas no mercado. Adicionalmente, “a forte instabilidade geopolítica, associada a preços de frete internacional muito altos criam grandes desafios às cadeias de abastecimento mais longas. Por outro lado, existe uma tendência inflacionista que se aplica a todos os fatores produtivos”.
A intralogística e a logística na indústria alimentar implicam, como mencionado, uma gestão e rigor de processos muito elevada para que os produtos possam chegar ao consumidor em perfeitas condições, com garantia de boa qualidade e segurança alimentar.
Desta forma, quisemos saber quais os principais desafios que enfrentam as empresas da indústria alimentar do ponto de vista de logística e quais as soluções de equipamentos que podem potenciar esta indústria, nomeadamente, com o testemunho da Jungheinrich.
Segundo o Diretor Comercial da Jungheinrich, Rui Crespo, “em termos de indústria, o controlo da temperatura apresenta-se em muitos casos como um fator crítico pois exige equipamentos de transporte especialmente preparados para o efeito, particularmente em casos onde seja necessária temperatura refrigerada ou de frio negativo. Isso envolve um extremo cuidado e especificidades para o armazenamento e distribuição e implica processos logísticos específicos e altamente dedicados. O nível de perecibilidade dos produtos é também importante solicitando muitas vezes processos FiFo (First In / First Out)”.
O responsável comercial da Jungheinrich acrescenta ainda que “ao nível da produção existe também a necessidade de análise detalhada com a movimentação de matérias ou alimentos em fase de confeção e pré embalamento o que envolve em áreas específicas a utilização de equipamentos de movimentação construídos com materiais próprios, menos contaminantes e não corrosíveis, bem como a utilização de óleos hidráulicos específicos para a indústria alimentar, entre outros”.
Outro dos fatores também importantes para a indústria alimentar, no que respeita à segurança, centra-se na identificação de operações potencialmente deflagrantes ou de atmosferas potencialmente explosivas na indústria alimentar como em silos ou na utilização de compostos voláteis. Essas situações envolvem processos de classificação de riscos potenciais na operação para a preparação de todos os equipamentos que possam operar nessa atmosfera, clarifica.
Empilhador ETX 515a da Jungheinrich, adequado para processos de intralogística.
Para fazer face às exigências crescentes do setor, são necessários procedimentos e equipamentos que respondam de forma eficaz e que tornem as empresas da indústria alimentar mais competitivas. Sabendo que cada operação apresenta requisitos específicos, a maior diferenciação da Jungheinrich é fazer uma análise em conjunto com o cliente para poder apresentar a solução ideal para os requisitos da operação.
Como explica o Diretor Comercial da empresa, “em situações onde é necessária uma temperatura controlada ou negativa, a Jungheinrich realiza uma preparação específica dos equipamentos e da tecnologia de tração para ambiente em frio. Por exemplo, num empilhador retrátil capaz de chegar a grandes alturas para otimizar uma câmara de frio preparamos o equipamento para lidar com temperaturas negativas, desde o tratamento do chassis, aos rolamentos selados do mastro, passando pela parte elétrica. Muito importante para a produtividade da operação nesses casos é a inclusão de elementos de conforto e segurança para o operador que passam pelo banco aquecido, temperatura regulável ao nível dos pés e do tronco de forma individual e sistemas de auxílio para realizar um rápido stacking que até pode ser semiautomático a grandes alturas. Isso é fundamental no resultado da operação e atualmente na retenção dos operadores nos quadros da empresa ao poderem trabalhar com as ferramentas adequadas e em segurança”.
Outras soluções disponíveis para a indústria alimentar passam por sistemas de armazenagem, como por exemplo estanteria tipo dinâmica, onde é implementado um processo fluído tipo FiFo em que as paletes passam da produção para a logística através de roletes ao mesmo tempo que permite um armazenamento provisório e dinâmico da mercadoria.
Em situações de produção onde pode haver um contacto dos equipamentos de movimentação com os produtos alimentares a Jungheinrich apresenta um leque de soluções à medida, no qual se podem adaptar o nível de investimento aos requisitos específicos de cada cliente.
Rui Crespo sublinha que “temos tido um grande sucesso com equipamentos galvanizados com uma técnica de produção que permite aos nossos clientes um investimento mais otimizado do que soluções clássicas exclusivas em material inox mantendo o nível de segurança alimentar e a longevidade do equipamento com grande retorno para a operação”.
Em suma, depois de dois anos de pandemia, com uma crise energética já em marcha antes do conflito e com uma tendência inflacionista muito vincada, não poderia haver momento mais particular. “Assistimos a uma tempestade perfeita com escassez de matérias-primas, custos produtivos altos, inflação e muita pressão sobre as cadeias de abastecimento. Além disso, toda a incerteza e a possibilidade de subida das taxas de juros terão um efeito nefasto na capacidade de investimento”, como afirma a APOL.
No entanto, este deve ser visto como o momento de viragem para o setor logístico na indústria alimentar. Como uma oportunidade de modernização das unidades e processos de intralogística, mas também como um momento ideal para aumentar a automação na cadeia de valor, por forma a maximizar a competitividade das empresas.
Em paralelo, será importante “haver uma política energética clara, coerente e clara”, como refere a APOL, para que as empresas possam acompanhar a evolução da economia e em paralelo fazerem crescer as suas empresas e poderem gradualmente ir melhorando a experiência do consumidor.
Segundo dados partilhados pela ASAE, as empresas cada vez mais assumem a sua responsabilidade no controlo dos seus produtos e processos e fazem-no com “enorme profissionalismo”.
"O comércio alimentar é global exigindo dos seus diferentes players, competitividade e a adoção muito eficiente de boas praticas e de referenciais de qualidade internacionais. Numa economia global e com forte âncora no digital, o espaço para quem não cumpre é cada vez mais estreito. Tal, reflete-se em melhores resultados em toda a cadeia. Desde produção primária incluindo os navios fábrica, passando pelas operações nacionais de estrada, pelas indústrias até aos resultados no âmbito do Plano Nacional de Colheitas de Amostras (PNCA), que se centra no retalho alimentar”, finaliza Filipa Melo de Vasconcelos, Subinspetora-Geral da ASAE.
1 PNCA - Plano de controlo oficial por amostragem, que faz parte do Plano Nacional de Controlo Plurianual Integrado, da total responsabilidade da ASAE. Este plano é elaborado anualmente com base no risco associado aos grupos de géneros alimentícios e tem como objetivo assegurar e verificar que os géneros alimentícios colocados no mercado não põem em risco a segurança e saúde humanas, bem como assegurar os interesses do consumidor ao nível da correta e adequada informação veiculada na rotulagem, através de colheita de amostras e análise laboratorial no Laboratório de Segurança Alimentar da ASAE, representando uma potentíssima ferramenta de análise de avaliação da exposição do consumidor ao risco alimentar.
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