Filipa Melo de Vasconcelos1
1ASAE-Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
04/10/2022A ciguatera é uma intoxicação alimentar provocada pela ciguatoxina. Existem diversas ciguatoxinas (CTX) e estas são metabolitos secundários de algas dinoflageladas do género Gambierdiscus, que crescem predominantemente em associação com macroalgas em recifes de corais em climas tropicais e subtropicais.
Na Europa, surtos autóctones de intoxicação alimentar ciguatera foram relatados desde 2008 em Espanha (Ilhas Canárias) e em Portugal (Madeira). Decorrente destes surtos e com o reconhecimento pela EFSA do envenamento por Ciguatera como um possível risco emergente na UE, assim como a falta de metodologias e ferramentas e limites estabelecidos, levaram a EFSA e um consórcio de 14 parceiros a estabelecerem um acordo-parceria (FPA) consubstanciado no projecto Eurocigua de quatro anos.
O projeto EuroCigua II (ECG2) sucede assim ao EUROCIGUA (2016-2020) que se concentrou na caraterização de risco de intoxicação por peixes ciguatera (CFP) na Europa, a fim de responder à escassez de normas e material de referência; estabelecer uma abordagem metodológica confiável para identificar e quantificar as ciguatoxinas (CTXs) em peixes, microalgas e, eventualmente, em pacientes; compreender a distribuição espacial e temporal do Gambierdiscus spp. em águas da UE; avaliar a toxicidade semelhante ao CTX do Gambierdiscus spp. em populações; avaliar a possível presença de CTXs em peixes em águas da UE e melhorar o registo de casos de Ciguatera na UE.
No período em que decorreu o EuroCigua foram registrados 34 focos, encontrando-se Gambierdiscus não só nas ilhas do Atlântico espanhol e português, mas também em várias ilhas do Mediterrâneo, Chipre e Grécia, incluindo, pela primeira vez, notificação de várias espécies de dinoflagellates nas Ilhas Baleares.
A consciencialização entre profissionais de segurança alimentar, clínicos gerais e cidadãos precisa ser ativada para melhorar as respetivas notificações. Além disso, o risco de peixes importados deve ser caraterizado, uma vez que está aumentando o número de surtos de CFP na Europa. Mais caraterização do risco, elaboração de materiais de referência, formação de outros laboratórios na UE e desenvolvimento de modelagem preditiva sob mudanças climáticas na Europa precisam ser abordados neste novo acordo-parceria EuroCigua II (ECG2).
O ECG2 concentrar-se-á em fornecer as bases para uma abordagem integrada para avaliar os riscos para a saúde humana de ciguatoxinas em peixes na Europa, aproveitando quer o consórcio de excelência científica estabelecido no EUROCIGUA, quer a participação de agências e instituições europeias no Conselho Consultivo como ECDC, Comissão Europeia e JRC. Sendo o CFP um problema global cuja importância é reconhecida internacionalmente pela FAO, as colaborações internacionais com o Japão e os EUA serão mantidas e melhoradas, além de que, também a própria FAO participará do Conselho Consultivo.
Referências Bibliográficas
ialimentar.pt
iAlimentar - Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa