O projeto YPACK está a desenvolver embalagens biodegradáveis que prolongam a vida útil dos alimentos.
A Diretiva europeia dos Plásticos, de 2019, estabelece o fim da maioria dos plásticos de uso único já em julho de 2021 pelo que as empresas do setor têm vindo a investir em soluções alternativas, com grande peso para os materiais recicláveis.
Ao nível das embalagens para produtos alimentares a aposta tem sido, cada vez mais, em soluções que recorrem a resíduos orgânicos no sentido de lhes conferirem biodegradabilidade e até mesmo a possibilidade de compostagem doméstica.
Paralelamente há também já várias soluções de embalagens funcionais ou inteligentes com a introdução de componentes ou sensores capazes de comunicar as condições de um produto ou do ambiente em que ele se encontra. A maioria das embalagens inteligentes utiliza sensores simples – como monitores químicos e de pH – que interagem com a atmosfera interna e detetam a presença de gases, umidade e outros marcadores de qualidade.
No futuro, a junção da compostabilidade a estes elementos funcionais poderá ser a solução ideal para as embalagens alimentares
Indefinição e confusão são talvez as palavras que melhor caraterizam a situação atual, pelo que podemos aferir das conversas com responsáveis de empresas de polímeros, embalagens e reciclagem.
As embalagens ‘sustentáveis’ de que todos os dias há notícias, incluem, normalmente, vários tipos de plástico e colocam ainda mais problemas na reciclagem do que as de um só tipo de plástico. “Muitas dessas novas embalagens acabam por ir parar aterro, porque são muito complicadas de reciclar, com as tecnologias de que dispomos”, diz-nos Ricardo Pereira, CEO da Sirplaste e também vice-presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP).
Modesto Araújo, presidente da Vizelpas e igualmente vice-presidente da APIP, lembra o caso “dos copos de plástico para o café: eliminaram esses copos que eram 100% recicláveis para os substituir por copos de ‘cartão’ que, como têm uma película plástica são quase impossíveis de reciclar e, quase na totalidade, vão parar a aterro, com um impacto ambiental muito maior”.
Também os sacos de pão de papel e película plástica ou os novos sacos de ‘papel’ para carne ou peixe, são soluções apresentadas como mais ‘sustentáveis’ mas que, na realidade, têm muito mais impacto no ambiente devido à dificuldade de serem reciclados, contra o ‘simples’ saco de plástico que foram substituir, que, esse sim, é 100% reciclável.
A disponibilidade de novos plásticos reciclados cresceu assim muito mais rapidamente do que as tecnologias de reciclagem, sendo, por isso, uma área onde é preciso investir para poder dar resposta à reciclagem e reaproveitamento destes novos materiais multicamada.
Por seu lado, Célia Vale, gestora de projetos da AGI – Augusto Guimarães & Irmão, salienta que “é fundamental que haja legislação clara, para todos sabermos o que podemos e como podemos fazer”, salientando que se espera que o governo avance com legislação nesta área no início do verão.
E adianta: “há uma enorme vontade dos nossos clientes de apostarem em materiais mais ecológicos, nomeadamente biomateriais mas ainda há pouca oferta e as regras estão pouco claras”.
No entanto, Célia Vale frisa que “estamos a desenvolver vários projetos com dois fornecedores nossos de biopolímeros para diversos clientes e temos conseguido dar resposta ao que pretendem. As soluções vão-se criando à medida das necessidades de cada situação”.
Há cada vez mais investigações no âmbito das embalagens biodegradáveis, compostáveis e funcionais. Margarida Cortez Vieira, professora do Departamento de Engenharia Alimentar da Universidade do Algarve, diz-nos que o objetivo é “Produzir embalagens que não poluam o ambiente, que utilizem de preferência materiais que se degradem logo após o consumo do alimento” e, em conjunto com alunos de mestrado, tem desenvolvido vários projetos neste sentido.
Alguns exemplos são os filmes de origem biológica, de proteína isolada de tremoço (Lupinus angustifolius) ou de quitosano.
Mas o ISE da UAlg tem tido também projetos na área das embalagens inteligentes/funcionais. “Uma embalagem é inteligente se for capaz de conter funções inteligentes que respondem a um estímulo interno/externo de modo a comunicar o estado do produto aos seus consumidores ou seja contém um elemento que interage com os consumidores informando os sobre um produto (preço, frescura, transporte, armazenamento, etc.), ou sobre asua fidelização com uma marca encontrar uma marca nas redes sociais, na web, etc.”, explica Margarida Vieira.
Investigação do Departamento de Engenharia Alimentar do Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve.
Neste caso estão as embalagens de libertação controlada (exemplos: CO₂; Aromas; Antioxidantes; e Antimicrobianos) e estão a prosseguir agora estudos com a produção de nanopartículas.
Este tipo de embalagens podem, nomeadamente, ajudar a prolongar a vida útil dos alimentos, entre muitas outras funções.
É o caso do projeto YPACK está a desenvolver embalagens biodegradáveis que prolongam a vida útil dos alimentos. Os últimos resultados deste projeto, financiado pela UE, mostram que uma formulação inovadora de ingredientes ativos poderia permitir fabricar embalagens biodegradáveis com capacidade para prolongar o prazo de validade dos alimentos, reduzindo assim os resíduos alimentares.
O consórcio responsável pelo projeto YPACK, do qual fazem parte a Universidade do Minho, a Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/NOVA), a Sonae, a Biotrend e o INL (International Iberian Nanotechnology Laboratory), desenvolveu, ao longo dos últimos dois anos, um plástico de base biológica alternativo às tradicionais embalagens de plástico para alimentos.
A embalagem compostável YPACK é feita a partir de um biopolímero sustentável, poli(3-hydroxybutyrate-co-3-hydroxyvalerate), identificado com a sigla PHBV, produzido a partir de subprodutos industriais do soro de queijo e de microcelulose proveniente de casca de amêndoa. Os testes de biodegradabilidade mostram uma degradação total dentro dos 90 dias regulamentados.
Mais recentemente, uma equipa da Universidade de Coimbra (UC), com a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), desenvolveu um conjunto de embalagens comestíveis a partir de diferentes resíduos do setor agroalimentar e da pesca, uma alternativa sustentável ao plástico.
Na prática, estas embalagens comestíveis são filmes obtidos a partir de resíduos de diferentes alimentos, nomeadamente cascas de batata e de marmelo, fruta fora das caraterísticas padronizadas e cascas de crustáceos, que, além de revestirem os alimentos, prolongando a sua vida útil na prateleira do supermercado, também podem ser ingeridos.
“O maior desafio é encontrar os materiais ideais para que as formulações tenham as caraterísticas desejadas. Por isso, foi necessário estudar os filmes do ponto de vista físico, como por exemplo as propriedades mecânicas, de forma a servirem de embalagem/ revestimento; estudar as propriedades bioativas dos filmes, ou seja, se alguns compostos apresentam benefícios para a saúde quando ingeridos; avaliar as reações quando se juntam diferentes compostos; análise microbiológica e sensorial dos filmes selecionados; e avaliar a compatibilidade do alimento com o sistema comestível produzido”, resumem Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra, as três investigadoras da FCTUC que desenvolveram este projeto.
A maioria destes projetos de investigação em curso nas várias universidades e outras instituições estão a ser desenvolvidas em parceria com empresas do setor.
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