Pedro Queiroz | Diretor-Geral da FIPA
*Artigo de opinião publicado no boletim quinzenal da FIPA
02/03/2021Vivemos perante a inevitável contagem dos casos de Covid, analisam-se a queda do PIB e as variações da taxa de desemprego, mede-se o indicador de confiança dos consumidores, estimam-se possíveis crescimentos e recuperações, contabilizam-se os milhões de euros de fundos europeus que deverão ser injetados na economia.
Estaremos obcecados por números, estudos e estatísticas? Em certa medida sim (e de forma legítima), porque todas estas análises dão-nos a sensação da relativa estabilidade, necessária para que possamos projetar o futuro. No entanto, sem desrespeito por todos os profissionais que se dedicam a estas áreas, os números não são as únicas ferramentas para formularmos soluções de médio e longo prazo para o desenvolvimento social, económico e financeiro do país.
Temos de contribuir com ideias – e aqui é de sublinhar a consulta lançada pelo Governo ao Plano de Recuperação e Resiliência nacional, que peca desde logo pelo curto prazo estabelecido –, construir perceções e, acima de tudo, esclarecer e informar sobre o papel de cada agente económico e de cada setor na economia nacional.
No caso da indústria agroalimentar, é claro o objetivo de seguirmos este caminho.
Porque números não são ideias, são exatamente os conceitos que nos movem (e alguns dos assuntos que abordamos neste boletim são breves exemplos disso).
Ou seja, não nos importa apenas contabilizar os 12 milhões de embalagens de bebidas em plásticos depositados graças ao projeto conjunto entre os setores das bebidas e do retalho – importa-nos, sim, o conceito-base desta iniciativa, que pretende incentivar comportamentos sustentáveis por parte do consumidor. Não nos basta dizer que a circularidade é um compromisso de décadas da indústria agroalimentar – importa-nos sublinhar como e porque motivo o é. Não nos é suficiente estar ao lado da digitalização do setor, sem defender que é essencial uma aposta real em planos de educação, formação e profissionalização especializados nas suas áreas.
Porque números não são ideias, não nos é plausível que nos coloquem metas ou compromissos que se traduzam em contabilizações, sem que seja desenvolvido um trabalho conjunto com o setor e sem que seja entendido, de forma transparente, o modo como alimentamos a economia, mas, acima de tudo, o país.
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