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Cereais e produtos à base de cereais: controlo efetuado na ASAE - Parte II

Pedro Nabais1-1, Sofia Lopes1-1, Sarogini Monteiro1-1, Paulo Carmona1-1, Célia Santos1-2, Graça Campos1-2, Manuela Sol1-2

1Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, DRA-Divisão de Riscos Alimentares

1-2Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, LSA-Laboratório de Segurança Alimentar

09/05/2024

Técnica

Controlo efetuado na ASAE

O Plano Nacional de Colheita de Amostras (PNCA), cuja gestão cabe por inteiro à ASAE, vem dar cumprimento, em termos de controlo oficial, ao estabelecido atualmente no Regulamento (UE) n.º 2017/625, de 15 de março e tem como objetivo assegurar e verificar que os géneros alimentícios colocados no mercado não põem em risco a segurança e saúde humana, bem como assegurar os interesses do consumidor ao nível da correta e adequada informação da rotulagem e práticas fraudulentas. O cumprimento deste objetivo resulta da análise da conformidade dos alimentos, face ao que está disposto na legislação aplicável, nomeadamente, em termos de critérios de segurança microbiológica, química ou física, de critérios de qualidade e/ou tecnológicos, assim como também em relação à sua rotulagem, apresentação e publicidade.

As características e dimensão do Plano (frequência de amostragem por grupo de género alimentício) assentam no risco, tal como previsto no Regulamento nº 2017/625. Mais precisamente, tem em conta a gravidade dos perigos associados a cada grupo de géneros alimentícios, ao nível de ocorrência desses mesmo perigos e ao seu nível de detecção analítica. Adicionalmente tem ainda em conta os dados do consumo de cada grupo de alimentos pela população Portuguesa, dados esses obtidos do IAN-AF – Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física.

Os resultados obtidos no PNCA, por serem representativos da generalidade dos alimentos que se encontram no mercado, proporcionam relevante e detalhada informação que é utilizada anualmente de várias formas:
  • Fonte de dados a reportar anualmente para a CE através do Plano Nacional de Controlo Plurianual (PNCP);
  • Fonte Nacional de dados de ocorrência de perigos reportados anualmente à Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA);
  • Base de dados para planeamento operacional ao abrigo Plano Nacional de Fiscalização Alimentar (PNFA) da ASAE;
  • Fonte nacional de dados para estudos de Avaliação dos Riscos na cadeia alimentar.
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O grupo “Cereais e seus derivados” é um dos 13 grupos de géneros alimentícios controlados anualmente pelo PNCA. Dada a grande variedade de diferentes géneros alimentícios neste grupo, para efeitos de planeamento, estão ainda estabelecidos 7 subgrupos: cereais transformados, cereais não transformados, cereais de pequeno-almoço, farinha, massas, pão e bolachas.

No âmbito do controlo efetuado a géneros alimentícios deste grupo, entre 2017 e 2021, a ASAE planeou e executou a colheita de 699 amostras de cereais e derivados que se encontravam no mercado (ver Gráfico 1).

Gráfico 1: Número de amostras colhidas no âmbito do PNCA de cereais e derivados no período: 2017-2021
Gráfico 1: Número de amostras colhidas no âmbito do PNCA de cereais e derivados no período: 2017-2021

699 amostras foram sujeitas a um total de 3354 determinações analíticas, com vista a verificar a conformidade com a legislação aplicável. Os parâmetros analíticos alvos de controlo no Laboratório de Segurança Alimentar (LSA) da ASAE foram desde critérios de segurança microbiológica, contaminantes, alergénios, aditivos e de validação de alegações nutricionais (ver Gráfico 2).

Gráfico 2: Número de determinações analíticas efetuadas a amostras de cereais e derivados, no âmbito do PNCA, no período...
Gráfico 2: Número de determinações analíticas efetuadas a amostras de cereais e derivados, no âmbito do PNCA, no período: 2017-2021

Métodos analíticos

Micotoxinas

Os ensaios para a determinação de micotoxinas estão todos no âmbito da acreditação segundo a NP EN ISO/IEC 17025:2018, norma de referência pela qual o Instituto Português de Acreditação, I.P. reconhece a capacidade e competência técnica. Este reconhecimento enquadra-se também com o estatuto de Laboratório Nacional de Referência, para a determinação de micotoxinas em alimentos, que o LSA detém desde 2012.

De acordo como o Regulamento (CE) Nº 401/2006, os métodos analíticos para determinar micotoxinas, devem ser sensíveis, específicos e exatos e este regulamento descreve os critérios de desempenho os métodos têm de cumprir. Os métodos assim validados são usados para verificar o cumprimento da legislação bem como permitir o levantamento de dados com o objetivo de determinar a exposição da população a estes contaminantes.

Na execução destes métodos, após moagem/homogeneização, a amostra é colocada em contato com uma solução de extração adequada durante o tempo necessário, de modo a que esta seja solubilizada, o mais completamente possível. Usualmente as soluções de extração são compostas por solventes orgânicos ou misturas destes solventes com água.
O extrato assim obtido é filtrado ou centrifugado/filtrado, diluído e purificado
O extrato assim obtido é filtrado ou centrifugado/filtrado, diluído e purificado.
O processo de purificação consiste na passagem do extrato por colunas de imunoafinidade (IAC) contendo anticorpos específicos para cada micotoxina. O extrato é passado lentamente através da coluna retendo a micotoxina, seguindo-se lavagem com solução de tampão fosfato e/ou água. A micotoxina é depois libertada por eluição com um solvente que desnatura o anticorpo.

A taxa de recuperação do método é um parâmetro importante que é determinado em função de cada micotoxina e tipo de matriz, sendo depois usado para corrigir o resultado.

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A etapa final do processo analítico envolve a determinação quantitativa da micotoxina recorrendo a técnicas cromatográficas, nomeadamente a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) associada a detetor de fluorescência (HPLC-FL) ou de ultravioleta (HPLC-UV).

A confirmação da identidade da micotoxina faz-se por comparação do tempo de retenção do pico cromatográfico observado com o tempo de retenção do padrão e a quantificação é obtida por interpolação numa curva de calibração previamente estabelecida. No caso das aflatoxinas e das fumonisinas há necessidade de realizar uma reação de derivatização, de modo a aumentar a sensibilidade do método.

Metais

A análise de metais decorre segundo o princípio de digestão seca da matéria orgânica da amostra – carbonização e incineração em mufla – seguida de dissolução em meio ácido.
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A quantificação é feita com recurso à técnica de absorção atómica de chama, com calibração externa.

De acordo como o Regulamento (CE) n. o 2073/2005 da Comissão relativo a critérios microbiológicos aplicáveis aos géneros alimentícios, os métodos analíticos para realização dos ensaios microbiológicos deveram ser os métodos de referência publicados pela International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização) – ISO. É aceitável a utilização de métodos de análise alternativos desde que tenham sido validados de acordo com os requisitos da norma EN ISO 16140-2.

O Laboratório de Microbiologia realizou os ensaios utilizando os métodos que abaixo se indicam:

• Pesquisa de Listeria monocytogenes - iQ-Check Listeria monocytogenes II - AFNOR BRD 07/10-04/05, confirmação de resultados positivos com RAPID'L.mono

• Pesquisa de Salmonela - iQ-Check Salmonella II - AFNOR BRD 07/06-07/04, confirmação de resultados positivos com RAPID'Salmonella

• Pesquisa de Cronobacter spp. - iQ-Check Cronobacter spp. - AFNOR BRD 07/23-01/13, confirmação de resultados positivos com RAPID’Sakazakii

• Contagem de Bacillus cereus - COMPASS Bacillus cereus Agar - AFNOR BKR 23/06-02/10

Todos estes métodos são métodos alternativos validados de acordo com os requisitos da norma EN ISO 16140-2

• Contagem de Listeria monocytogenes – Norma ISO 11290-2 Método horizontal para a contagem de Listeria monocytogenes

A toma da amostra para ensaio e a preparação da amostra para análise microbiológica cumpre o preconizado nas Normas da série ISO 6887 (parte 1 a 5).

Os métodos utilizados nas contagens são metodologias de base cultural (desenvolvimento dos microrganismos em meios de cultura) e os métodos utilizados nas pesquisas são metodologias de PCR em tempo real (biologia molecular de deteção do ADN dos microrganismos).

Os ensaios executados na análise microbiológica estão todos, exceto a contagem de B. cereus, no âmbito da acreditação segundo a NP EN ISO/IEC 17025:2018.

Resultados

No controlo das 699 amostras desde tipo de alimentos, verificou-se que apenas 7 amostras se encontravam em incumprimento ao estabelecido legalmente. De entre essas não conformidades, o único caso em que se constatou estarmos perante um alimento não seguro, potencialmente prejudicial para a saúde foi uma amostra de broa de milho, que apresentava uma quantidade de aflatoxina B1 acima do limite legalmente estabelecido (ver Gráfico 3).

Gráfico 3: Número e tipo de não conformidades encontradas em amostras de cereais e derivados, no âmbito do PNCA, no período...
Gráfico 3: Número e tipo de não conformidades encontradas em amostras de cereais e derivados, no âmbito do PNCA, no período: 2017-2021
Deste modo, o controlo efetuado nos últimos 5 anos revela que, na sua generalidade, os cereais e produtos derivados que se encontram disponíveis no mercado nacional são seguros para o consumidor.

Sendo o PNCA um plano de controlo por amostragem, e tendo em conta o elevado consumo de cereais e produtos derivados pela população, é relevante que a ASAE, enquanto autoridade competente no âmbito do controlo oficial de géneros alimentícios, continue a controlar estes géneros alimentícios no âmbito do PNCA, contribuindo para assegurar que os géneros alimentícios disponibilizados ao consumidor são seguros e cumprem os demais requisitos legais.

Referências Bibliográficas

• Regulamento (CE) nº178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho de 28 de janeiro, que determina os princípios e normas gerais da legislação alimentar, cria a Autoridade Europeia para a Segurança dos alimentos e estabelece procedimentos em matéria de segurança dos géneros alimentícios;

• https://food.ec.europa.eu/system/files/2021-08/rasff_pub_annual-report_2020.pdf

• https://webgate.ec.europa.eu/rasff-window, consultado em 04.01.2022

• Regulamento (UE) n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios. Jornal Oficial da União Europeia.

• https://www.asae.gov.pt/seguranca-alimentar/riscos-biologicos/bacillus-cereus.aspx

• EFSA & ECDC. The European Union One Health 2018 Zoonoses Report. EFSA J. 17, (2019)

• Ahmad, A., Jae-Hyuk, Y. (2017). Occurrence, Toxicity, and Analysis of Major Mycotoxins in Food. International Journal of Environmental Research and Public Health. 14, 632; doi:10.3390/ijerph14060632.

• Schaarschmidt, S., Fauhl-Hassek, C. (2018). The Fate of Mycotoxins During the Processing of Wheat for Human Consumption. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety. Vol.17. Institute of Food Technologists. doi: 10.1111/1541-4337.12338.

• Soares, C., Abrunhosa, L., Venâncio, A. (2013). Fungos produtores de micotoxinas: impacto na segurança alimentar. Sociedade Portuguesa de Microbiologia. Magazine da SPM, 30.07b.

• Regulamento (CE) n.º 1881/2006, da Comissão, de 19 de dezembro, que fixa os teores máximos de certos contaminantes presentes nos géneros alimentícios. Jornal Oficial da União Europeia.

• https://ian-af.up.pt/

• Palle Krogh (Editor), Mycotoxins in Food, Academic Press, 1987, ISBN 0-12-426670-3.

• EFSA, Scientific opinion on Risk assessment of aflatoxins in food, EFSA Journal 2020, https://doi.org/10.2903/j.efsa.2020.6040.

• Ochratoxin A in food: public health risks assessed | EFSA (europa.eu), consultado em 2022

• EFSA, Scientific Opinion on the risks to human and animal health related to the presence of deoxynivalenol and its acetylated and modified forms in food and feed, EFSA Journal 2017, https://doi.org/10.2903/j.efsa.2017.4718.

• Regulamento (CE) N.º 1881/2006 da Comissão, de 19 de dezembro, que fixa os teores máximos de certos contaminantes presentes nos géneros alimentícios. Jornal Oficial da União Europeia.

• NP EN ISO/IEC 17025:2018 Requisitos gerais de competência para laboratórios de ensaio e calibração.

• Regulamento (CE) N.º 401/2006 da Comissão, de 23 de Fevereiro, que estabelece os métodos de amostragem e de análise para o controlo oficial dos teores de micotoxinas nos géneros alimentícios.

• Regulamento (CE) n. o 2073/2005 da Comissão, de 15 de Novembro de 2005 relativo a critérios microbiológicos aplicáveis aos géneros alimentícios. Jornal Oficial da União Europeia.

• EN ISO 16140 Microbiology of the food chain — Method validation — Part 2: Protocol for the validation of alternative (proprietary) methods against a reference method.

• iQ-Check Listeria monocytogenes II - AFNOR BRD 07/10-04/05 - https://nf-validation.afnor.org/wp-content/uploads/sites/2/2014/03/BRD-07-10-04-05_en.pdf.

• iQ-Check Salmonella II - AFNOR BRD 07/06-07/04 - https://nf-validation.afnor.org/wp-content/uploads/sites/2/2014/03/BRD-07-06-07-04_en.pdf.

• iQ-Check Cronobacter spp. - AFNOR BRD 07/23-01/13 - https://nf-validation.afnor.org/wp-content/uploads/2014/03/BRD-07-23-01-13_fr.pdf.

• COMPASS Bacillus cereus Agar - AFNOR BKR 23/06-02/10 - https://nf-validation.afnor.org/wp-content/uploads/sites/2/2014/03/BKR-23-06-02-10_en.pdf.

• ISO 11290-2 Microbiology of the food chain - Horizontal method for the detection and enumeration of Listeria monocytogenes and of Listeria spp. - Part 2: Enumeration method.

• ISO 6887 Microbiology of the food chain - Preparation of test samples, initial suspension and decimal dilutions for microbiological examination - Part 1 to Part 5.

• NP EN ISO/IEC 17025:2018 Requisitos gerais de competência para laboratórios de ensaio e calibração.

NOTA FINAL: a I Parte deste artigo foi publicada na edição n.º 7 da Revista iALIMENTAR.

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