49 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: IMPACTOS E RESPOSTAS de processamento de dados, mas os processos ainda não estão bem definidos, e recomenda-se a aposta em formação e consciencialização dos conceitos da Indústria 4.0”, explicou Deolinda Silva. Outros dados indicam que 30% das empresas estão no nível II de comunicação, 17% no nível de visibilidade e apenas 2% se situam no nível IV de transparência. No que respeita à maturidade digital do setor, percebeu-se que estão a ser dados passos iniciais “na digitalização, e que algumas tecnologias, como a integração eletrónica de dados ou o IoT, têm ainda uma adoção muito limitada, o que revela alguma resistência à mudança, e que a maioria das empresas não utiliza ainda inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada ou até os digital twins”. A maioria das empresas reconhece o potencial destas tecnologias, o que significa que ambiciona um futuro mais conectado, mais eficiente e mais competitivo. Este roteiro traça, assim, um roteiro da digitalização (tradução de roadmap, por consistência), que integra as várias etapas da digitalização da indústria, desde a otimização de processos à automação total. Existe aqui uma visão muito estratégica. O setor caminha para a transição digital até 2050. Relativamente à circularidade, qualidade do ar e recursos hídricos, Deolinda Silva referiu que a valorização de subprodutos e o aproveitamento da circularidade dos processos industriais ao limite deve ser um objetivo. “Percebemos que o setor das carnes é aquele que gera mais desperdício, e estamos a falar só da parte industrial, não falando a montante nem a jusante – embora saibamos que os sistemas devem ser trabalhados em conjunto e são indissociáveis – e que a valorização de produtos é essencial no trabalho da própria empresa e no impacto que se quer na sustentabilidade do planeta”. Esta valorização pode ser feita através do reaproveitamento de nutrientes ou compostos de valor acrescentado, e os subprodutos e resíduos devem ser reintegrados, tanto quanto possível, na cadeia de valor. O roteiro identifica que o reprocessamento dos resíduos permite diminuir a pegada carbónica de forma impactante. “Num cenário ideal, podemos reduzir as emissões associadas aos resíduos orgânicos em 42% até 2050”, afirmou Deolinda Silva. E, no que respeita ao consumo de água, o mesmo “quase não aumentará, mesmo partindo do princípio de que haverá um aumento de produção”. O roteiro apresenta também algumas medidas adicionais para os vários projetos que as empresas têm vindo a trabalhar, seja na área da embalagem, seja na da biodiversidade – e também no que respeita à água e à diversificação; tal como propostas de trajetórias custo-eficazes de reduções de emissões de GEE no setor. “Os objetivos de redução de GEE são atingidos por quase todos os cenários até 2030, mas só pelos mais ambiciosos em 2050”, destacou a diretora-executiva da PortugalFoods. Uma conclusão muito importante deste roteiro é a questão da análise do custo versus as medidas para a redução das emissões, relativamente ao ano base de 2020. “Quanto mais ambiciosa for a transição – quer por via da eletrificação, quer por via da integração dos gases renováveis para substituição do gás natural –, menor é o custo total”. Isto significa que “não fazer nada é a opção mais cara, o que significa que vale a pena investir, não só devido às questões ambientais, mas também em termos de negócio”. Deolinda Silva acrescenta: "De referir que demos continuidade ao trabalho desenvolvido neste Roteiro, que foi de extrema relevância para compreendermos como se encontrava o setor nesta temática, através da submissão de uma nova candidatura, em parceria com entidades relevantes do setor, com o objetivo de catalisar a descarbonização do setor agroalimentar". Adicionalmente, a InovCluster tem liderado projetos de valorização de subprodutos agroindustriais, como foi o caso do Reinova, um projeto POCTEP, com o duplo objetivo de reduzir resíduos e criar produtos de valor acrescentado, promovendo a circularidade e a bioeconomia no setor. “Estas iniciativas alinham-se com as metas nacionais de neutralidade carbónica e com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu”, afirma Patrícia Coe Todos os projetos submetidos nesta fase de arranque de um novo quadro comunitário partilham um denominador comum: “a promoção de um setor alimentar mais resiliente, eficiente e sustentável, com base na inovação colaborativa e na capacitação contínua das empresas portuguesas”. A ligação entre empresas e investigação é crucial. n “Quanto mais ambiciosa for a transição, quer por via de eletrificação, quer por via de integração dos gases renováveis para substituição do gás natural, menor é o custo total”, Deolinda Silva, PortugalFoods
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