BF17 - iAlimentar

46 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: IMPACTOS E RESPOSTAS que com níveis de emissão inferiores aos de países mais industrializados”. É preciso encontrar o equilíbrio entre a adaptação e a mitigação e, para tal, existem estratégias já em curso para reduzir a pegada ambiental dos sistemas alimentares”. Entre elas, destaca-se o investimento na descarbonização do setor, a adoção de práticas agrícolas regenerativas, a redução do uso de fertilizantes químicos, bem como a reformulação de processos industriais para melhorar a eficiência e minimizar o desperdício”. Existem também exemplos de empresas que já estão a liderar esta transição: desenvolvem produtos adaptados às novas condições climáticas, valorizam subprodutos agroindustriais, reduzem a dependência de matérias-primas vulneráveis e apostam em energias renováveis. “Estas iniciativas, não só aumentam a resiliência operacional das empresas, como reforçam a sua competitividade num mercado global cada vez mais atento aos critérios ESG”. “O setor agroalimentar enfrenta de forma muito evidente o dilema de ser simultaneamente vítima e agente das alterações climáticas. Por um lado, é altamente vulnerável aos impactos — como secas prolongadas, escassez hídrica e eventos extremos que afetam diretamente a produção agrícola e a estabilidade da cadeia de abastecimento”, refere Patrícia Coelho. Não há uma resposta com apenas uma dimensão. Há que procurar o equilíbrio através da transformação sistémica em três pilares essenciais: eficiência, inovação e circularidade. “A nível da InovCluster, temos vindo a trabalhar com as empresas do setor para identificar medidas concretas — como a eletrificação de processos térmicos, o aproveitamento de resíduos para produção de biogás ou biometano, e a aposta em fontes de energia solar — que reduzem a pegada carbónica sem comprometer a viabilidade económica”. Além disso, a associação promove práticas de agricultura regenerativa, soluções digitais de monitorização hídrica e valorização de subprodutos, alinhadas com os princípios da bioeconomia e da neutralidade carbónica. “O setor alimentar tem a oportunidade única de liderar a transição verde, não apenas mitigando os seus impactos, mas tornando-se parte ativa da solução. Para isso, é essencial uma abordagem colaborativa, integrada e com visão de longo prazo, onde a InovCluster se posiciona como facilitadora estratégica dessa transformação”. A presidente acrescenta uma nota final, continuamente transmitida às empresas: “O custo de não fazer nada é muito superior ao de investir em soluções alternativas, e por isso procuramos capacitar todos os agentes do setor para as medidas e soluções disponíveis”. A indústria alimentar tem vindo a adaptar-se progressivamente através de investimentos em “tecnologias resilientes, práticas agrícolas mais sustentáveis e digitalização, aliando a tradição à modernidade”, salienta Patrícia Coelho. O nosso país é “fortemente conhecido pelos seus produtos de elevada qualidade em qualquer que seja o setor, nomeadamente o setor agroalimentar e, pelo desiderato que estamos sujeitos, a agroindústria está fortemente a apostar em tecnologia, processos de sustentabilidade e novos métodos de produção”. Destaque ainda para a agricultura de precisão para otimizar colheitas, alimentos que sejam cada vez mais enriquecidos com ingredientes saudáveis, o reaproveitamento de subprodutos com objetivos claros de reduzir o desperdício. “Destaco o papel da InovCluster no apoio à inovação e transferência de conhecimento, ligando empresas, centros de investigação e entidades públicas. O foco passa por antecipar riscos, diversificar cadeias de abastecimento e apostar em modelos de economia circular”. Nos últimos tempos, a associação tem submetido várias candidaturas a diversos projetos com o objetivo de trabalhar esta temática, pois, segundo a Agência Europeia do Ambiente, 46% da média anual de água utilizada na União Europeia deve-se ao setor agrícola, sobretudo na irrigação de culturas. E, dado que a agricultura é responsável por quase metade da água utilizada, há que fomentar práticas sustentáveis, com melhor uso dos recursos hídricos. “É por isso que temos ambição de, num futuro próximo, trabalhar projetos que visem proteger e conservar os recursos hídricos pela melhoria na eficiência de utilização de água pelo setor agrícola”. As principais realizações incluem a implementação de práticas sustentáveis e eficientes de gestão da água e solo, promoção do cultivo de culturas resistentes à seca e desenvolvimento de novos produtos alimentares funcionais com base em ingredientes destas culturas. PRESSÃO NO TRANSPORTE REFRIGERADO E NO ARMAZENAMENTO As alterações climáticas também estão a criar desafios crescentes para o trans- “Uma falha na cadeia de frio, mesmo que breve, pode pôr em causa a segurança e a qualidade dos produtos. Além disso, os equipamentos acabam por se desgastar mais rapidamente, precisando de manutenção e substituição frequentes”, afirma Vítor Alves

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