BF17 - iAlimentar

45 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: IMPACTOS E RESPOSTAS Patrícia Coelho, presidente da InovCluster – Associação do Cluster Agro-Industrial do Centro. “Na InovCluster, temos acompanhado esta evolução e apoiado as empresas a adaptarem-se com base em conhecimento técnico, inovação colaborativa e políticas públicas orientadas para a neutralidade carbónica”, refere Patrícia Coelho, presidente da associação Nem de propósito, na última semana, a InovCluster foi um dos projetos aprovados a nível europeu na 'call Joint' Cluster Initiatives (EUROCLUSTERS) for Europe’s recovery — o GATE5.0 – Green and Digital Transitions for a Sustainable European Agrifood Ecosystem. “Este projeto ambicioso tem como missão acelerar a transição verde e digital do setor agroalimentar europeu, em alinhamento com o Green Deal e a estratégia Farm to Fork”, explica Patrícia Coelho. Através da aplicação de tecnologias de ponta no âmbito da Agricultura 5.0, “como a Internet das Coisas (IoT), a Inteligência Artificial (IA), a robótica e a agricultura de precisão, o projeto pretende otimizar o uso de recursos, reforçar a resiliência climática, reduzir o impacto ambiental e promover, simultaneamente, a produtividade e a sustentabilidade do setor”. PREPARAR AS EMPRESAS PARA OS RISCOS Segundo o estudo Adaptação e Mitigação das Alterações Climáticas: Um Sistema Alimentar e Setor Agropecuário Agroecológicos em Portugal, “a região mediterrânica, incluindo Portugal, está vulnerável a temperaturas mais altas, eventos extremos, reduzida precipitação e secas prolongadas. Espera-se que a produtividade agrícola caia entre 15% e 25% até 2050, devido à escassez de água”. Outro estudo, intitulado Assessment of Climate Change Impacts of Chilling and Forcing for the Main Fresh Fruit Regions in Portugal, publicado no jornal académico Frontiers in Plant Science, revela que as reduções do frio de inverno e o aumento das horas de calor têm provocado um risco de stresse térmico para a produção tradicional em algumas regiões, como a Beira Alta, a Cova da Beira e o Algarve. Os eventos extremos, como a seca e as ondas de calor recorrentes, têm afetado as culturas nacionais. E isto justifica o facto de existirem já empresas a trabalhar “no desenvolvimento de produtos resilientes às alterações climáticas e alinhados com as novas exigências do consumidor sustentável, em ações que incluem o aproveitamento de subprodutos agroindustriais e a revisão das formulações para privilegiar ingredientes de origem local e com maior resistência ambiental”, explica Vítor Alves. Passou a existir, então, uma preocupação antecipatória que leva a que um número crescente de empresas passe a integrar o risco climático nos seus modelos de gestão. Como? Na prática, através do desenvolvimento de planos de contingência que incluem, entre outras medidas, “a criação de stocks de segurança, o reforço de seguros e a implementação de sistemas de resposta a emergências”, destaca o docente. E acrescenta: “Paralelamente, a pressão por maior transparência ambiental — tanto por parte do mercado como dos reguladores — tem alertado as empresas para a importância de adotar certificações como a ISO 14001 ou o EMAS (Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria), implementar rotulagem de carbono nos seus produtos e assegurar a conformidade com critérios ESG (ambientais, sociais e de governação), fatores cada vez mais relevantes para a exportação e captação de investimento”. São alguns os progressos, mas o setor agroindustrial continua a enfrentar obstáculos relevantes, como “ alguma falta de literacia climática e a resistência à mudança em segmentos mais tradicionais, que continuam a dificultar a transição para modelos mais resilientes". AGENTE E VÍTIMA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: UM DUPLO PAPEL O setor alimentar — e agroindustrial — desempenha um duplo papel crítico no contexto das alterações climáticas. Por um lado, é vulnerável a fenómenos extremos, como ondas de calor que afetam diretamente a produção animal e vegetal, ou secas prolongadas que comprometem a disponibilidade de água. “Estes impactos traduzem- -se em quebras de produtividade e aumento de custos ao longo de toda a cadeia, do prado ao prato”, defende Vítor Alves. Por outro lado, “é inegável que o sistema alimentar global é também responsável por uma parte significativa das emissões de gases com efeito de estufa (GEE)”. Portugal acompanha esta tendência, “ainda

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx