ENTREVISTA 31 Portugal não sofre de escassez de água — o verdadeiro desafio está na gestão e distribuição. É essencial criar uma rede nacional de água que una o país de norte a sul e de litoral a interior, garantindo eficiência e resiliência no acesso a este recurso vital. Os financiamentos verdes são relevantes para esta transição? Os mecanismos de apoio devem ser simples, ágeis e acessíveis às empresas. Só assim poderemos acelerar a mudança. VISÃO ESTRATÉGICA PARA O SETOR AGROALIMENTAR Como caracteriza a competitividade atual do setor agroalimentar português? Em 2024, as exportações portuguesas de frutas, legumes e flores atingiram o valor mais alto de sempre: 2,5 mil milhões de euros. De acordo com os dados do INE, representa um aumento de 7,5% em valor face a 2023 e mais do triplo do valor em comparação com 2010 (780 milhões de euros). Em volume, as exportações também registaram uma evolução positiva de 2,4%, para um total de 1.816.807 toneladas. A União Europeia é o principal destino das frutas, legumes e flores produzidos em Portugal, representando 81% das exportações em valor. Os números mostram que Portugal está cada vez mais competitivo. Oferecemos produtos de excelência, com diferenciação, segurança e sabor — é isso que os compradores procuram. Mas precisamos de ambição e de um compromisso sólido que permita desbloquear o enorme potencial do setor agrícola. Com mais investimentos nas infraestruturas necessárias, Portugal pode consolidar-se como um dos principais exportadores de produtos agrícolas da Europa. Que setores ou produtos têm maior potencial de crescimento? O que é necessário para internacionalizar com escala? Os negócios devem ser efetuados do mercado para a produção. Ou seja, o mercado decidirá quais os produtos com maior potencial. Daí a enorme importância das ações que a Portugal Fresh promove que permitem conhecer melhor as tendências de mercado e identificar algumas das oportunidades que surgem. Nos últimos anos, temos verificado um grande crescimento de setores como os pequenos frutos, liderados pela framboesa, laranja, frutos secos, tomate fresco, couves, kiwis, abacate e outros que mantêm a sua enorme importância como o tomate transformado, a pera rocha ou a maçã, entre outros. As plantas ornamentais também têm vindo a crescer e têm o seu espaço. Para ganhar escala é fundamental apostar na organização da produção. Só através da cooperação entre agricultores e da concentração da oferta será possível aumentar a competitividade do setor. As organizações de produtores permitem otimizar recursos, reduzir custos e reforçar a capacidade de negociação dos produtores perante os mercados e os diferentes canais de distribuição. Numa agricultura cada vez mais exigente e global, trabalhar em conjunto é uma necessidade estratégica. Acrescento ainda a necessidade de se adotar uma legislação eficaz para integrar os trabalhadores migrantes na agricultura. São uma peça fundamental e é preciso que sejam bem integrados e tenham condições dignas de habitabilidade. É urgente criar legislação para o alojamento coletivo de trabalhadores em meio urbano, como existe em Espanha e França há muitos anos. Recordo que, em Portugal, os migrantes já representam mais de 42% dos postos de trabalho do setor da agricultura e pescas. É preciso criar processos céleres e eficazes com os postos consulares, que dêem respostas atempadas às empresas. Os apoios públicos devem estar alinhados com todos estes objetivos estratégicos. Como a Portugal Fresh está a integrar a nova geração de produtores? Temos uma nova geração mais qualificada, com visão global e sede de inovação. A Portugal Fresh trabalha com os seus associados de forma muito estreita e ajuda na promoção dos negócios em feiras internacionais, missões empresariais e partilha contínua de conhecimento. O desafio da renovação geracional é gigantesco em toda a Europa, mas também é uma oportunidade. Ao apostar na tecnologia e inovação, o setor está a tornar-se mais atrativo para os jovens. “Produtos de outras geografias que normalmente exportavam para os Estados Unidos poderão ver na União Europeia um mercado alternativo afetando, assim, a valorização dos nossos produtos”
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