ENTREVISTA 30 Que lacunas ainda identifica nas Pequenas e Médias Empresas (PME)? A Portugal Fresh atua nesse reforço? Nas PME, as principais lacunas residem muitas vezes na capacidade técnica para manter sistemas de certificação atualizados e acompanhar as exigências regulatórias mais complexas. A Portugal Fresh contribui para este reforço através da partilha de conhecimento, da realização de missões a mercados com potencial e da presença em feiras internacionais, como a Fruit Logistica ou a Fruit Attraction, onde as empresas têm contacto com os melhores exemplos e padrões de exigência internacionais. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E GESTÃO DO RISCO Que impactos já são visíveis? E que estratégias estão a ser adotadas? Os agricultores são os primeiros a sentir os efeitos das alterações climáticas. As quebras de produtividade causadas por secas prolongadas, ondas de calor mais intensas, chuvas irregulares e fenómenos meteorológicos extremos tornam a atividade agrícola cada vez mais imprevisível e arriscada. Estes impactos não afetam apenas a rentabilidade das explorações, colocam também em causa a segurança alimentar e o abastecimento regular de alimentos. Por isso, garantir uma gestão eficiente da água e investir em infraestruturas de regadio não é apenas uma questão de desenvolvimento económico — é uma resposta concreta à urgência climática e uma forma de proteger quem assegura a alimentação de todos. Os produtores portugueses estão a adaptar-se a este contexto com inovação e apostam, por exemplo, em sensores de monitorização, agricultura de precisão e novas variedades mais resilientes. A resiliência do setor depende cada vez mais da ciência e de uma gestão eficiente. O setor está preparado para a escassez hídrica? Há investimentos relevantes? O setor tem feito um esforço notável na poupança de água: hoje produzimos mais com menos. Mas chegámos a um limite em que a eficiência por si só já não chega. Precisamos urgentemente modernizar os perímetros de rega, construir charcas, reservatórios e barragens e implementar medidas concretas. Este é o travão mais sério ao crescimento sustentado do setor. Em Portugal, a competitividade da produção agroalimentar está fortemente ligada às zonas com acesso a regadio. Apesar de o país dispor de uma superfície agrícola de 3,7 milhões de hectares, apenas cerca de 15% (aproximadamente 562 mil hectares) estão equipados com sistemas de rega. É urgente reforçar a ambição nacional nesta área. A expansão do regadio é fundamental para tirar partido das excelentes condições climáticas que Portugal oferece. O nosso território tem um potencial notável para produzir azeite, vinho, carne, frutas, legumes, queijos e muito mais — mas é necessário fazer escolhas estratégicas. A estratégia 'Água que Une' trouxe um conjunto de medidas (são quase 300), mas precisamos que seja posta em prática. É preciso que o Governo avance com a calendarização das obras para que este não seja mais um grande projeto que não sai do papel. Com um investimento previsto de cinco mil milhões de euros até 2030, o setor aguarda com expectativa a concretização de um plano claro de obras e investimentos que permita aumentar a capacidade produtiva e reforçar o contributo do agroalimentar para a economia e para as exportações. “Precisamos urgentemente modernizar os perímetros de rega, construir charcas, reservatórios e barragens e implementar medidas concretas. Este é o travão mais sério ao crescimento sustentado do setor”
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