BF17 - iAlimentar

ENTREVISTA 29 Conversar com Gonçalo Santos Andrade é olhar de frente para os grandes temas do setor alimentar português. Presidente da Portugal Fresh e com uma carreira construída em torno da promoção estratégica dos produtos nacionais, é uma das vozes mais pertinentes na defesa de um modelo alimentar que alie qualidade, sustentabilidade e ambição exportadora. Nesta entrevista, realizada num momento em que o setor enfrenta pressões climáticas, económicas e políticas, Gonçalo Santos Andrade fala da necessidade de acelerar decisões, organizar melhor a produção e reforçar a competitividade das empresas, especialmente das pequenas e médias. Logística, certificação, gestão da água e investimento público são pontos centrais da conversa — uma chamada de atenção para quem trabalha, todos os dias, para alimentar Portugal e o mundo com produtos de qualidade. Mais do que análise, esta conversa é um roteiro claro para quem quer construir um setor alimentar mais forte, mais resiliente e com futuro. É, sobretudo, um apelo direto à ação. EFICIÊNCIA LOGÍSTICA, CADEIA DE FRIO E RASTREABILIDADE Como avalia o grau de maturidade das empresas portuguesas nesta área? Quais os principais desafios estruturais ainda por resolver? O setor das frutas, legumes e flores tem evoluído significativamente na eficiência logística, na cadeia de frio e na rastreabilidade, fruto de investimentos contínuos por parte das empresas. No entanto, é essencial investir numa rede logística nacional mais robusta e interligada que sirva eficazmente os mercados externos e permita a todas as empresas - pequenas e grandes - ter respostas adequadas às suas necessidades. Nos produtos frescos, usamos exclusivamente a via rodoviária pois é mais rápida e eficaz: em 24 horas estamos em Paris e entre 36 a 48 horas no centro da Europa, com a garantia de mantermos a cadeia de frio, a qualidade dos produtos e a sua frescura. Na União Europeia há muito a fazer no transporte ferroviário. Que investimentos ou soluções tecnológicas têm vindo a destacar-se? Há casos de boas práticas que possam ser replicados? Há uma forte aposta em soluções tecnológicas desde o campo, até às centrais hortofrutícolas. O tempo entre o período de colheita e a entrada em armazém tem vindo a diminuir de forma acentuada e, na última década, o investimento no arrefecimento rápido a nível das centrais foi substancial. A maioria dos produtores e organizações de produtores transporta os seus produtos diversas vezes ao longo do dia com o objetivo de reduzir o tempo de permanência do produto no campo. Portugal está a tirar proveito do seu posicionamento geográfico? O que falta para escalar? Portugal tem desafios logísticos consideráveis pois não está entre os países geograficamente próximos de mercados com maior PIB per capita e poder de compra, que podem remunerar melhor os nossos produtos, como os Países Nórdicos, a Alemanha e o Reino Unido. Para contornar este obstáculo é necessário um maior grau de organização da produção e mais investimento em ligações logísticas nos próximos anos. Por outro lado, estamos bem posicionados logisticamente para o Norte de África e para a América Latina que são mercados interessantes para os produtos portugueses. SEGURANÇA ALIMENTAR E EXIGÊNCIA DOS MERCADOS Como têm as empresas portuguesas respondido às exigências dos mercados internacionais? As empresas portuguesas têm respondido com grande sentido de responsabilidade. Este é um setor altamente tecnológico e responde às exigências dos seus clientes internacionais de forma natural e integrada no negócio. Hoje, as empresas são dotadas de todas as certificações mais importantes, como a GlobalG.A.P. ou a GRASP (Global Risk Assessment on Social Practice), por exemplo, e os mercados externos reconhecem Portugal como um fornecedor seguro, competente e fiável. Esta resposta do setor é um reflexo do profissionalismo e da aposta constante em formação e melhoria de processos.

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