DOSSIER PROTEÍNAS ALTERNATIVAS E O FUTURO DA ALIMENTAÇÃO 43 IMPRESSÃO ALIMENTAR 3D De acordo com a consultora Grand View Research, também se estima que, entre 2023 e 2031, o crescimento anual de empresas start-up dedicadas à impressão alimentar 3D seja de 35%. A impressão alimentar por fabrico aditivo tem desenvolvido soluções tecnologicamente interessantes, em resposta a problemas específicos e determinados públicos-alvo, como em idosos com problemas de disfagia alimentar (dificuldade em engolir), reconstituindo alimentos para a sua forma original, por impressão tridimensional com purés nutricionalmente enriquecidos, reabilitando experiências alimentares organolepticamente prazerosas. A carne cultivada em laboratório é uma técnica que tem vindo a ser explorada na indústria alimentar, sobretudo pela oferta ao consumo de espécies em extinção (como o polvo). A Stakeholder, empresa israelita, tem- -se especializado nesta tecnologia, reproduzindo bifes a partir de células animais, com recurso à bio impressão tridimensional. SUPERALIMENTOS FUNCIONAIS Este mercado também tem sido explorado com a impressão 3D, como o projeto de investigação idfoods, liderado pelos hipermercados Continente, em parceria com a FEUP, INEGI, Frulact e INL. Consiste na personalização alimentar e desenho de produtos destinado a diferentes grupos etários por recurso a esta tecnologia (Afreixo & Lino, 2025). A título de exemplo, as drink bombs (concentrados esféricos, secos e efervescentes) libertam, em contacto com água, proteína e sais minerais necessários a um perfil de consumidor desportista. Os ensaios e investigações alimentares em curso abrem pistas para diferentes modelos nutricionais alternativos, oferecendo diferentes experiências organoléticas, quer por mimetismo vegetal de alimentos tradicionalmente de origem animal, quer pela reprodução celular de tecidos animais em ambiente esterilizado, quer pela integração de farinha de insetos em pastas alimentares tradicionais, ou pela ingestão de alimentos vegetais tradicionais, ricos em proteínas, como os fungos ou as leguminosas. Uma sociedade dirigida à sustentabilidade, à acessibilidade social e à descarbonização do ambiente para inversão do efeito de estufa, implicará a mobilização de todos, tanto mais que o crescimento demográfico humano não pára de crescer. Estima-se que, em 2100, o crescimento da população mundial seja de 10,9 bilhões de habitantes (ONU), cuja alimentação se REFERÊNCIAS • Afreixo, L. (2025). Do tamanho de uma noz: Projecto de food design para mitigação da negligência alimentar [Tese doutoramento]. Aveiro. [no prelo] • Afreixo, L., & Lino, J. (2025, abril 2). Personalization and smart nutrition: The potential of 3d printing in food production. Conferência Internacional food 4 thought, Santa Maria da Feira. • Humpenöder, F., Bodirsky, B. L., Weindl, I., Lotze-Campen, H., Linder, T., & Popp, A. (2022). Projected environmental benefits of replacing beef with microbial protein. Nature, 605(7908), 90–96. https://doi.org/10.1038/s41586-022-04629-w • Kuhar, F. (2023, setembro 12). Proteínas: Amamo-las mas desperdiçamo-las [Conferência]. Food Design Festival, La Nave, Madrid. • Lopes, C., Torres, D., Oliveira, A., Severo, M., Alarcão, V., Guiomar, S., Mota, J., Teixeira, P., Rodrigues, S., Lobato, L., Magalhães, V., Correia, D., Carvalho, C., Pizarro, A., Marques, A., Vilela, S., Oliveira, L., Nicola, P., Soares, S., & Ramos, E. (2017). Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física, IAN-AF 2015-2016 [Relatório de Resultados 2017]. Universidade do Porto. www.ian-af.up.pt • Mesquita, C., Oliveira, J., Alvim, N., & Ribeiro, P. (2022). Proteína Verde: Plantar a alimentação do futuro. Associação Vegetariana Portuguesa. • Onwezen, M. C., Bouwman, E. P., Reinders, M. J., & Dagevos, H. (2021). A systematic review on consumer acceptance of alternative proteins: Pulses, algae, insects, plant-based meat alternatives, and cultured meat. Appetite, 159, 105058. https://doi.org/10.1016/j. appet.2020.105058. torna um desafio a repensar na forma como produzimos e consumimos proteínas e em toda a cadeia do sistema alimentar. As proteínas alternativas não são apenas uma tendência, mas uma resposta necessária a questões ambientais, de saúde humana e de segurança alimentar. Seja através da valorização de leguminosas, do aproveitamento de micélio para criar novas texturas proteicas ou da impressão alimentar 3D, a inovação tecnológica e o food design desempenham um papel crucial na transição para dietas mais salubres e sustentáveis. No entanto, a aceitação cultural do consumidor continua a constituir um fator crítico para a sua implementação e sucesso. n
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