Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa

Carnes e as novas fontes de proteína

Stephanie Reis, Investigadora, Colab4Food*

Nuno Oliveira, Investigador, Colab4Food*

04/07/2022
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Contextualização

A emergência climática, a crise pandémica seguida de uma disrupção das cadeias logísticas e o conflito armado no leste da Europa, com a consequente subida do preço das matérias-primas, são fatores que têm contribuído para uma contínua e crescente pressão sobre os vários setores económicos, incluindo o setor agroalimentar. Estes fatores têm levado a uma crescente necessidade de inovação e reinvenção, sendo que a indústria das carnes está particularmente exposta a esta exigência, por via de fatores adicionais: imposições político-estratégicas, a necessidade de aumentar a resiliência da cadeia limentar e torná-la mais sustentável e exigências de mercado e dos consumidores que são drivers para essas mudanças.

Um relatório da Mintel de 20221 relativo às tendências de consumo, indica que, de uma forma geral, o consumidor está comprometido com as suas escolhas, tendo uma maior consciência sobre a forma como se alimenta e o impacto ambiental e na saúde. Deste modo, os produtos terão de estar cada vez mais alinhados com princípios de transparência, rastreabilidade, confiabilidade e progresso mensurável nos compromissos com a saúde, meio ambiente e fatores éticos1. A par disto existem ainda os fatores demográficos, sendo que se prevê uma escassez mundial de proteína de origem animal, devido ao aumento populacional esperado até 2050 (FAO, 2020)2.

Uma nova era para o setor das carnes?

O setor agropecuário, não sendo indiferente a estes vários fatores, tem procurado responder às novas exigências através da inovação e da implementação de ações em direção à neutralidade de carbono. Por outro lado, é já notória a diversificação do portfólio de produtos das empresas com a inclusão de soluções híbridas de proteínas animal e vegetal e/ou 100% de origem vegetal. Do ponto de vista de fontes alternativas de proteínas, várias soluções têm sido desenvolvidas como alternativas à convencional proteína animal. Como fontes de origem vegetal já estabelecidas no mercado são exemplos a soja, trigo e ervilha, e como fontes emergentes o arroz branco e o feijão mungo (Figura1).

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É também conhecido que as algas como fonte de proteína têm elevado potencial e existem vários produtos já disponíveis no mercado. No entanto, algumas limitações tecnológicas (tais como o sabor ou a cor) posicionam esta alternativa proteica como uma fonte, ainda, emergente. É, também, de realçar outras fontes emergentes de proteína, tais como as de inseto, e os produtos provenientes de fermentação (fungos e bactérias) e agricultura celular.

O futuro do setor poderá passar pelo reconhecimento de “produtores de proteína” e não apenas “produtores de produtos cárneos”. Esta evolução para novos tipos de produto pode ser uma oportunidade para o setor. A indústria convencional das carnes já possui a infraestrutura e conhecimento, uma vez que a maioria das tecnologias de processamento para a produção destes produtos são muito semelhantes às existentes. O Colab4Food analisou os dados de mercado, com base na plataforma Mintel3, relativos ao lançamento de novos produtos no setor a nível mundial (produtos de carne, produtos de aves e substitutos de carne) para o período de 2017 a 2021, tendo sido identificados 74 358 novos produtos lançados, dos quais, cerca de 10% correspondem a produtos na categoria dos substitutos da carne e livres de produtos ou ingredientes de carne (Figuras 2 e 3). Ainda no período em análise, foi identificado um crescimento de 27% na categoria dos substitutos de carne, que compara com um crescimento de 14% no lançamento de novos produtos de carne e aves.

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Apesar do surgimento de fontes alternativas de proteína, a sustentabilidade ambiental está, também, dependente da produção animal, devido ao seu contributo positivo para a biodiversidade quando parte de “quintas sustentáveis” baseadas num conceito de uma agricultura regenerativa e integrada. “A biodiversidade é o pilar da estabilidade do ecossistema, dos mecanismos de regulação natural e da qualidade da paisagem4.” Assim, a perspetiva de evolução do setor é que aconteça no sentido de uma crescente diversificação das fontes de proteína. A introdução no mercado destas novas proteínas de forma acessível (disponibilidade e preço) ao consumidor, pode ajudar na transição para dietas mais saudáveis e sustentáveis, e está em linha com os princípios da dieta mediterrânica, que preconiza uma dieta diversificada e equilibrada com base em produtos locais e sazonais.

Contributo do Colab4Food para esta evolução

O Colab4Food é um laboratório colaborativo que promove a Inovação e Desenvolvimento do setor agroalimentar, de forma colaborativa entre os meios académico e empresarial. Procuramos encontrar soluções para os desafios da indústria com soluções aplicáveis e que tragam benefícios e retorno financeiro. O Colab4Food direciona assim os seus esforços para catalisar a inovação assente na transferência de conhecimento e tecnologia dentro do ecossistema agroalimentar, estando envolvido em várias iniciativas, a nível nacional e internacional, relacionadas com as diferentes fontes de proteína acima referidas. Nesta matéria, a nossa contribuição passa pela cooperação com as principais entidades científicas e os players que trabalham em várias áreas técnicas com i) consultoria às empresas na procura de financiamento competitivo (PT2030, Horizonte Europa, a médio e longo prazo), ii) realização de testes em laboratório de novos ingredientes provenientes de fontes alternativas, e iii) desenvolvimento de protótipos de produtos alimentares, iv) melhoria de processos tecnológicos na indústria, v) consultoria em termos de imposições legais e regulamentares do setor, e vi) monitorização das tendências de mercado e dos consumidores.

Bibliografia

1. What the 2022 Consumer Trends mean for food and drink - Mintel. https://clients.mintel.com/trend/what-the-2022-consumer-trends-mean-for-food-anddrink

2. FAO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2020. Transforming food systems for affordable healthy diets. IEEE Journal of Selected Topics in Applied Earth

Observations and Remote Sensing (2020).

3. Mintel GNPD. Global New Products Database. https://www.gnpd.com/ (2022).

4. Aguiar, A. et al. Produção integrada. (2005).

* Laboratório Colaborativo para a Inovação da Indústria Agroalimentar

Rua dos Lagidos

4485-655, Vairão

Vila do Conde, Portugal

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